O termo "teorias clássicas do comércio" refere-se às teorias surgidas a partir de debates da segunda metade do século XVIII que procuravam sistematizar o funcionamento do comércio internacional e influenciaram por conseguinte, a economia moderna. Até aquela época, o conhecimento que se possuía acerca do comércio exterior tinha origem nos documentos elaborados por pensadores da escola mercantilista, que justificavam o comércio internacional pela oportunidade que ele oferecia de se obter um excedente na balança comercial. Objetivo central consistia no superavit comercial, que deveria ser atingido a qualquer custo. Assim, para suplantar os velhos e já obsoletos conceitos mercantilistas, surgem teorias de pensadores no nascente ramo da economia, como Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill.
Smith, em trabalho originalmente publicado em 1776 desenvolveu a teoria das vantagens absolutas como base do comércio internacional. A vantagem absoluta obtida por uma determinada nação, de determinado bem resulta de uma maior produtividade, ou, em outras palavras, utilizando uma menor quantidade de insumo para produzir esse bem enfrentando menores custos. Pensava Smith não ser sempre necessário que um país obtenha excedentes de comércio exterior para que as trocas comerciais internacionais sejam vantajosas, e que as trocas voluntárias entre países podem beneficiar todos aqueles envolvidos na operação. Esta última ideia representa um importante ponto de ruptura com toda lógica mercantilista. Não há que se buscar eternamente, a todo o momento, o superavit nas trocas comerciais.
Assim, cada país deve se concentrar na produção dos bens que lhe oferecem vantagem absoluta. Já o excedente, que não suprirá o consumo interno, deve ser exportado, e a receita equivalente deve ser utilizada para importar os bens produzidos em países estrangeiros. Tal prática trará efetivamente um aumento na capacidade de consumo dos países envolvidos no comércio internacional, aumentando assim, a efetivação das trocas. A partir deste raciocínio, Smith concluiu que o comércio exterior eleva o bem-estar da sociedade.
David Ricardo aprimorou tal teoria, ao estender a possibilidade de ganhos de comércio para países que não possuem vantagens absolutas em relação a outros. Para ele, não é o princípio da vantagem absoluta a determinar a direção e a possibilidade de se beneficiar do comércio, mas a vantagem comparativa.
Apesar de controvérsias acerca do pioneirismo do conceito de vantagem comparativa, tal ideia ainda é em larga escala atribuída a Ricardo. A vantagem comparativa, denominada também vantagem relativa, reflete o custo de oportunidade relativa, ou seja, a relação entre as quantidades de um determinado bem que dois países precisam deixar de produzir para concentrar sua produção em outro bem. As vantagens comparativas, segundo Ricardo, advém das diferenças de produtividade do fator trabalho para distintos bens, influenciados também pelo clima e pelo ambiente de cada nação. Assim, os países deviam se especializar em produtos onde encontram vantagem comparativa, aumentando sua produção doméstica, sendo que a produção não vendida no mercado doméstico deveria ser exportada. Os outros bens seriam adquiridos no mercado internacional a um preço menor que o de produzi-los internamente, fazendo do comércio internacional um ambiente vantajoso para todos.
Já Stuart Mill corroborou a noção de Ricardo acerca da vantagem comparativa ao afirmar que um país com custos reais altos exportaria artigos de algum tipo, mesmo para países que o poderiam produzir com menos trabalho do que ele. Esses países, supondo-se terem vantagens sobre ele em todos os produtos, teriam vantagem maior em algumas mercadorias que em outras, e importariam artigos em que sua vantagem fosse mínima, para poderem empregar quantidade maior de sua própria mão-de-obra e de seu capital nas mercadorias em que a vantagem fosse máxima.
Apesar das restrições dos modernos teóricos do ramo da economia, diversos estudos empíricos têm confirmado o prognóstico básico do modelo de Ricardo, onde os países optariam por exportar bens cuja produtividade é relativamente alta e importar bens de produtividade relativamente baixa.
Bibliografia: COUTINHO, Eduardo Senra; LANA-PEIXOTO Fernando de Vilhena; FILHO, Paulo Zschaber Ribeiro; AMARAL, Hudson Fernandes. De Smith a Porter: Um ensaio sobre as teorias de comércio exterior. Disponível em
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