Cleptoparasitismo

Algumas interações entre diferentes organismos podem ser caracterizadas pelo oportunismo, como o cleptoparasitismo. O parasitismo é definido como uma interação entre uma espécie parasita que obtém recursos através de um ou vários indivíduos hospedeiros, provocando danos e causando prejuízos à espécie hospedeira. O termo cleptoparasitismo (‘kleptein’, do grego: ‘roubar’ ‘furtar’) foi introduzido para descrever o roubo de alimentos previamente coletados ou processados por algum outro indivíduo.

Esse tipo de comportamento também é chamado de parasitismo alimentar, pirataria ou comportamento de roubo, sendo reconhecida como uma importante estratégia alimentar registrada em grandes grupos como invertebrados marinhos, insetos e aranhas (compreendendo o maior número de cleptoparasitas já identificados), peixes, répteis, aves e mamíferos, podendo ocorrer entre indivíduos de uma mesma espécie ou de espécies diferentes.

Dependendo da forma de abordagem para obter aceso ao alimento, o cleptoparasitismo pode ser considerado agressivo, também chamado de roubo ostensivo, onde há uso de força ou ameaça para ter acesso ao alimento. Também pode ser classificado como ‘scramble’ quando o recurso obtido é explorado simultaneamente por um predador e um cleptoparasita, havendo pouca ou nenhuma violência entre eles.

Cleptoparasitismo interespecífico

Interações interespecíficas acontecem quando os indivíduos envolvidos na interação pertencem a espécies diferentes, de modo que nesse caso o parasita é de uma espécie diferente da vítima. Por exemplo a hiena-malhada (Crocuta crocuta) é conhecida por assustar leopardos e leões de suas presas recém abatidas a fim de aproveitarem os restos de alimento. Desse modo utilizam a potência da mordida e a agilidade dos predadores, e se beneficiam aproveitando a caça sem demandar maior custo energético. As Cachalotes (Physeter macrocephalus) também são conhecidas por roubarem peixes de redes de pesca, e segundo o MNN (Mother Nature Network) no Alasca, estima-se que esses animais sejam responsáveis por ingerirem entre 5% e 10% dos peixes carvão-do-pacífico capturados pelos pescadores.

Outro exemplo é observado em grupos de aves de rapina, há o roubo da presa por outros rapinantes, prática comum e agravada por alguns fatores como a escassez de alimentos, a grande concentração de parasitas e a maior visibilidade da presa. Um fator ambiental que favorece essa prática são as vegetações abertas, já que facilitam a identificação do hospedeiro, que por sua vez tem dificuldades para esconder o alimento recém obtido. No Brasil, o gavião-peneira (Elanus leucurus) costuma ser a vítima mais frequente de cleptoparasitismo, quase sempre saqueado por falcões-de-coleira (Falco femoralis), carcarás (C. plancus) e outros gaviões de áreas abertas, de modo que normalmente ele não se defende do roubo. Já o carcará, que é bastante oportunista, parece ser o cleptoparasita mais comum, roubando presas de várias espécies de gaviões e falcões.

Gaivota rouba peixe de foca-cinzenta. Fotos: Viktor Loki / Shutterstock.com

Cleptoparasitismo intraespecífico

As interações intraespecíficas acontecem entre indivíduos da mesma espécie, e um caso de cleptoparasitismo intraespecífico pode ser observado em aranhas do gênero Argyrodes. Essas espécies de aranhas costumam invadir teias de outros indivíduos, se alimentando das presas encontradas no local, e ainda podem tomar a teia para si. O pinguim-de-adélia pertencente a espécie Pygoscelis adeliae também é considerado um cleptoparasita intraespecífico, roubando pedras utilizadas na construção dos nichos de outros indivíduos vizinhos.

Referências bibliográficas

[1] Silveira, M. C. Evolução e cleptoparasitismo em Argyrodes elevatus (Theridiidae, Araneae). Dissertação de Mestrado (Universidade de São Paulo, Neurociência e comportamento) 2009. Disponivel em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47135/tde-17122009-112423/pt-br.php

[2] Menq, W. 2011. Relações interespecificas nas aves de rapina. Disponível em: http://www.avesderapinabrasil.com/materias/relacoes_interespecificas.htm

[3] Garcia, G. O. 2010. Cleptoparasitismo como una estrategia trófica oportunista: costos e beneficios para parasitos e hospederos. Tese de Doutorado em Ciências, Universidad Nacional de Mar del Plata. Disponivel em: https://www.researchgate.net/profile/German_Garcia/publication/322041666_Cleptoparasitismo_en_aves_como_una_estrategia_trofica_oportunista_costos_y_beneficios_para_parasitos_y_hospedadores/links/5a400a140f7e9ba8689dfa21/Cleptoparasitismo-en-aves-como-una-estrategia-trofica-oportunista-costos-y-beneficios-para-parasitos-y-hospedadores.pdf

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