A escravidão no Brasil ocorreu entre os séculos XVI e XIX e foi uma forma de exploração da força de trabalho de homens e mulheres africanas, sustentada pelo tráfico negreiro pelo oceano Atlântico. O processo de apresamento na África, seguido da travessia do oceano e a chegada em terras brasileiras foi bastante complexo. O fluxo de africanos de diversas partes do continente foi tanto que os escravizados chegaram a compor 75% da população em lugares como o Recôncavo Baiano, por exemplo.
Sobreviver foi uma tarefa difícil. As mortes eram constantes e a taxa de natalidade muito baixa, por conta disso e pela pouca importância dada à reprodução, houve necessidade constante de importar mão-de-obra, sustentando o tráfico atlântico. Este figurou como atividade lucrativa para um grupo bastante influente de traficantes.
É com a chegada dos portugueses na costa atlântica ao sul do Saara, no século XV que as formas de comércio se modificam e o uso da violência passou a ser comum. Cerca de 4,9 milhões de africanos vieram para o Brasil. As plantations e os monopólios eram a base da agricultura escravista e garantiram a escravidão como um negócio lucrativo.
O processo de escravização começava no continente africano. O primeiro movimento era o apresamento pelos traficantes, seguido de uma longa viagem pelo interior da África até a chegada na costa atlântica. Esta viagem obrigava os cativos a percorrerem um longo caminho até a chegada nos portos. Muitos deles não resistiam às doenças ou mesmo ao esforço físico. Os que chegavam aos portos chegavam a esperar um longo tempo até que os navios negreiros tivessem “carga” suficientemente lucrativa para fazer a travessia do atlântico.
A travessia nos navios negreiros era marcada pela violência e pelas condições insalubres. Antes de embarcar os homens e mulheres cativos eram marcados com ferro – ou nas costas ou no peito – como forma de identificação do traficante a quem pertenciam. Um único navio carregava cativos de diversos traficantes e locais de origem. E assim os senhores os preferiam: trabalhadores de etnias e culturas diferentes pois dificultava a comunicação e prevenia a formação de rebeliões e motins.
Entre os séculos XVI e XVIII as caravelas portuguesas tinham capacidade de transportar aproximadamente 500 cativos por viagem. Já os navios a vapor faziam o transporte de aproximadamente 350 escravos, já no século XIX, quando, aos poucos, a escravidão foi sendo abolida em diversas nações do mundo, num processo iniciado pela Inglaterra.
A viagem nos navios tinha como dieta básica o azeite e o milho e, por conta desta alimentação pobre em vitaminas, especialmente a vitamina C, muitos escravizados chegavam com escorbuto, doença bastante comum neste contexto. O fim da travessia se dava com a chegada aos portos brasileiros como os de Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Fortaleza, São Luís e Belém. Os principais portos à época eram os de Salvador e Recife, mas, após a descoberta do ouro na região das Minas Gerais o porto do Rio de Janeiro ganha destaque e passa a receber um número cada vez maior de cativos.
A chegada era marcada, inicialmente, pela burocracia. Classificados por sexo e idade posteriormente eram enviados para o local onde se faziam os leilões de escravos, que poderia ser já na alfândega ou nos armazéns próximos à região portuária.
Como chegavam bastante debilitados: doenças, feridas na pele, com vermes e escorbuto e com pouco peso era preciso valorizar a “mercadoria” e para venda os cativos eram limpos, tinham os cabelos e barbas cortados, e passavam óleo na sua pele. Neste momento recebiam uma alimentação mais cuidadosa para melhorar o aspecto. Já para esconder a aparência depressiva – chamada de banzo - causada pela exploração e imigração forçada os cativos recebiam produtos estimulantes como tabaco.
Além da venda in loco os homens e mulheres escravizados eram anunciados nos jornais. Ao buscar os periódicos do período este tipo de anúncio é facilmente encontrado. Postos à venda a partir do seu sexo, idade e etnia a preferência se dava por homens adultos – os mais caros. A venda envolvia garantias: caso o cativo apresentasse alguma doença ou debilidade física nos quinze dias sequentes à venda podia ser devolvido.
Aqui os escravizados foram destinados ao trabalho nos latifúndios de cana de açúcar, nas minas de ouro e diamantes, nas fazendas de café ou mesmo no trabalho doméstico ao longo dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX. O comércio de homens e mulheres africanos ocasionou na morte e no sofrimento de milhões de pessoas.
Havia distinção entre os cativos domésticos e os do campo. Os destinados às casas-grandes viviam uma vida mais próxima dos senhores, e conheciam a fundo seu cotidiano. Por isso mesmo houve uma delimitação bastante evidente nas casas entre as áreas sociais e de serviço, presentes até hoje nos elevadores de edifícios separados entre social e de serviço, que servem para demarcar os lugares sociais de patrões e empregados. Já os escravizados destinados ao trabalho no campo levavam uma vida mais sacrificada embora ambas as formas de trabalho fossem forçadas e de exploração.
A escravidão foi um processo de extrema violência. A monocultura necessitava um grande número de trabalhadores que eram submetidos a uma rotina de trabalho difícil, pesada, sem lucros para os cativos, força de trabalho da produção latifundiária. O trabalho era intenso e o próprio cotidiano nos engenhos, nas fazendas ou nas minas, já representava uma violência impactante.
Os escravizados eram assombrados pela presença dos castigos físicos e das punições públicas. Várias foram as formas de humilhação. O tronco, o açoite, as humilhações, o uso de ganchos no pescoço ou as correntes presas ao chão representavam a violência a que eram submetidos os cativos. A escravidão é um sistema que só funciona com a presença da violência.
Ainda assim é preciso destacar o papel importante das revoltas e das rebeliões, formas de resistência à exploração imposta, como a experiência dos quilombos – como o de Palmares - e as diversas táticas praticadas para fugir da violência injusta. Homens e mulheres cativos não foram passivos ao sistema a que foram submetidos reagindo das mais variadas formas.
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Referência:
SCHWARCZ, Lilia & STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
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