O parasitismo é uma relação entre organismos de espécies diferentes na qual um dos envolvidos se beneficia (parasita) e o outro é prejudicado (hospedeiro). Parasitas especializados podem causar alterações morfológicas, fisiológicas e comportamentais em seus hospedeiros. Um exemplo de parasitismo bastante intrigante é o que se estabelece entre fungos do gênero Ophiocordyceps e insetos, principalmente as formigas. Quando infectadas por estes fungos, as formigas apresentam alterações de comportamento.
As formigas são contaminadas quando entram em contato com os esporos dos fungos, espalhados no ambiente. Após essa contaminação as formigas continuam desenvolvendo suas atividades normalmente. Estes esporos passam a germinar e o fungo se desenvolve penetrando ativamente no corpo da formiga e se alimentando de estruturas musculares da formiga. As hifas do fungo se espalham pela região do cérebro e da mandíbula. O sistema nervoso central da formiga é atingido e nesse período elas apresentam um movimento desordenado e trêmulo, escalando e caindo de arbustos. A formiga se afasta do formigueiro e é induzida a buscar áreas de vegetação. O fungo controla os músculos mandibulares da formiga, que fixa as mandíbulas em uma folha ou em outra região da planta, permanecendo assim até morrer.
Na fase terminal da infecção, o comportamento anormal das formigas é o motivo para que sejam chamadas de formigas zumbis. Os cadáveres das formigas permanecem fixos no local e o fungo continua crescendo dentro delas, utilizando-as como fonte de nutrientes e substrato de sustentação. Após uma a duas semanas da morte da formiga, estruturas do fungo são projetadas para fora do corpo da formiga. Estas estruturas são os corpos de frutificação, que crescem por alguns dias e mais tarde liberam milhares de esporos ao ambiente. Estes poderão infectar novas formigas, reiniciando o ciclo de vida do fungo.
A morte da formiga fora do formigueiro é vantajosa para o fungo, pois evita que o comportamento de limpeza das formigas no interior do formigueiro interrompa seu ciclo de vida. Além disso, a formiga é direcionada para um ambiente adequado ao desenvolvimento do fungo. Outro aspecto importante é que as formigas são induzidas a subir na vegetação, onde morrem. Assim os esporos dos fungos são liberados em uma área maior do que se as formigas morressem no solo, indicando uma adaptação.
Há registros da ocorrência dessa interação entre fungos e formigas na Ásia, África, Austrália e Américas. No Brasil, mais especificamente na Amazônia, esta relação de parasitismo já foi registrada entre diferentes espécies de formigas e fungos. A maioria das informações sobre as formigas zumbis está relacionada a poucas espécies do gênero Camponotus infectadas por Ophiocordyceps unilateralis e existem poucas informações disponíveis sobre outras espécies. Mas acredita-se que há uma especificidade entre estes organismos, de modo que cada espécie de fungo infecta apenas uma determinada espécie de formiga.
Esta associação resulta sempre na morte inevitável dos hospedeiros, mas é uma interação equilibrada nos ambientes naturais, onde a quantidade de formigas infectadas é compensada pelo crescimento das sociedades de formigas. A capacidade dos fungos de interferir no comportamento do hospedeiro é uma estratégia evolutiva incrível. Por outro lado, algumas espécies de formigas apresentam um comportamento de defesa, removendo esporos de fungos de formigas infectadas. Estas estratégias são fundamentais no equilíbrio das relações entre parasitas e hospedeiros.
Embora o caso das formigas zumbis já seja conhecido pelos cientistas há mais de um século, muitas questões ainda precisam ser esclarecidas sobre este processo fascinante. Provavelmente novas descobertas serão feitas nos próximos anos.
Referências:
Halfeld, V. R. Formigas zumbis no Jardim Botânico da Universidade de Juiz de Fora. Revista Brasileira de Zoociências, v. 17, n.2, p. 42-44, 2016.
Neto, J. A. C. O efeito da umidade e de fatores edáficos na dinâmica de infecção e na manipulação comportamental de formigas infectadas por fungos entomopatogênicos em uma floresta de terra firme na Amazônia central (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Amazonas. Manaus, 2016.
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