Incêndios na Floresta Amazônica

O uso do fogo está profundamente arraigado na cultura da Amazônia e tem enorme importância para os ecossistemas amazônicos pois representa um componente inseparável da expansão das fronteiras agrícolas e pode ser visto como um mal necessário onde os habitantes rurais dependem do uso do fogo para expandir suas fronteiras de ocupação. O fogo que é utilizado na conversão de áreas de floresta em agricultura constitui um método que posteriormente ao seu uso, gera um sistema composto de relações sociais que promovem ocupação, renda e segurança alimentar para a população rural amazônica.

O paradoxo do fogo na Amazônia é que ele pode ser utilizado tanto como ferramenta agrícola quanto como um agente de destruição, quando escapa do controle causando incêndios (queimadas acidentais) e extensos prejuízos ecológicos e econômicos como queima de pastos, animais, plantações, pomares, cercas e empobrecendo as florestas a partir de muitos pontos de vista biológico.

Fogo em trecho da Floresta Amazônica. Foto: Pedarilhos / Shutterstock.com

Como ferramenta agrícola, a queimada é utilizada como método mais acessível para fertilização do solo e abertura de novas áreas agrícolas, além de controle de plantas invasoras. As árvores abatidas no desmatamento são convertidas pelo fogo em cinzas ricas em nutrientes que são incorporados ao solo, além de limpar o terreno do emaranhado de troncos e galhos derrubados. Sem o uso do fogo os proprietários de terra teriam que investir em maquinário pesado para remover as árvores, deixariam de aproveitar a ciclagem dos nutrientes e a preparação da fertilidade do solo que as cinzas promovem. Também teriam de investir mais no controle de plantas invasoras nas pastagens tendo que roçar ou cortar as ervas com facões. Os comunitários utilizam o fogo, como método de controle de plantas invasoras, em áreas já desmatadas com maior frequência do que os grandes proprietários de terras, já que estes tem mais acesso à maquinaria necessária para o controle desse tipo de planta. O uso do fogo é, portanto, o método mais barato encontrado para expandir as fronteiras agrícolas e para manter pastagens entre os pequenos produtores rurais.

É difícil manter o fogo sob controle nas regiões onde ocorrem secas sazonais e que coincidem com as áreas de colonização onde praticamente todos os tipos de uso da terra aumentam a inflamabilidade dos ecossistemas. Incêndios florestais ocorrem com frequência nas áreas de fronteira de ocupação amazônica. O problema dos incêndios florestais é particularmente difícil de ser resolvido, pela complexidade na interação dos fatores biofísicos e socioeconômicos presentes nas fronteiras de ocupação.

Os principais fatores limitantes que são vigentes para reduzir queimadas e incêndios florestais na Amazônia brasileira são os baixos orçamentos para combate de incêndios florestais em detrimento apenas da prevenção dos incêndios. As insuficiências institucionais e os custos de transação referentes ao licenciamento de queimadas e o acesso limitado a créditos, mercado consumidor, mão-de-obra e assistência técnica, restrições estas que impedem a difusão de prática agropecuárias substitutas às queimadas.

Para um cenário mais otimista com relação as políticas públicas seria a construção de novas perspectivas e solução para o controle dos incêndios florestais. A reestruturação pode levar em conta o custo-benefício das ações e incluir, em seu desenho e implementação, as comunidades que são dependentes de praticar as queimadas em vista do custo benefício. O avanço em políticas socioeconômicas é complementar.

Referências bibliográficas:

Nepstad, D. C., A. Moreira & A. A. Alencar. 1999. A Floresta em Chamas: Origens, Impactos e Prevenção de Fogo na Amazônia. Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, Brasília, Brasil.

Fonseca-Morello et al. (2017). Queimadas e incêndios florestais na Amazônia brasileira: Porque as políticas públicas tem efeito limitado? Ambient. soc. [online]. 2017, vol.20, n.4 [citado 2020-01-03], pp.19-38. Acessado em: . ISSN 1414-753X.  http://dx.doi.org/10.1590/1809-4422asoc0232r1v2042017.

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