Os navios negreiros ou navios tumbeiros foram embarcações que fizeram a travessia do Atlântico, transportando mercadorias para troca no continente africano, homens e mulheres do continente africano para as colônias europeias no novo mundo, e produtos como açúcar e café, dentre tantos outros, para o continente europeu. Esse modelo de negócio ficou conhecido como comércio triangular, cuja principal atividade foi o tráfico negreiro, um dos negócios mais lucrativos do mundo à época, enviando cativos para sustentar as produções nas plantations ou explorações do ouro, como foi o caso do Brasil.
Os escravizados africanos foram retirados de seu continente num processo conhecido como diáspora africana. Foi através dos navios negreiros, que fizeram a travessia do atlântico, que estes indivíduos chegaram em novos lugares. A viagem era bastante difícil e durava cerca de dois meses, podendo ser prolongada por conta das tempestades e calmarias em alto mar.
Os maus tratos começavam antes mesmo de embarcar nos navios. Ficavam à espera do momento do emparque, amontoados e em condições precárias e eram levados por embarcações pequenas até o navio. Homens brancos compunham boa parte da tripulação e exerciam poder por meio de violência. O lugar destinado aos escravizados era o porão do navio, onde muitas vezes ficavam amontoados e acorrentados, mas não durante toda a viagem, pois se fizessem todo o trajeto presos não chegariam vivos ou chegariam em péssimas condições físicas, o que significaria uma perda de mercadoria significativa aos exploradores do trabalho escravo. Em alto mar os escravizados ficavam soltos nos porões e eram regularmente levados ao convés para se exercitar. O aprisionamento em correntes ocorria quando o navio se aproximava do porto. As condições nos navios eram precárias, sem ventilação nos porões – onde passavam boa parte do tempo – nem higiene adequada. A alimentação era bastante restrita e recebiam pequenas porções de farinha e carne seca e um pouco de água, que era rara até mesmo entre a tripulação.
Para garantir o lucro do negócio do tráfico a superlotação foi constante nos navios negreiros. Nos porões eram separados: de um lado ficavam os homens e no outro as mulheres e as crianças. O enjoo era constante e os dejetos humanos eram presenças constantes na realidade dos porões. Com certa frequência eram limpos com água do mar e vinagre a fim de suavizar os odores e a sujeira. Desta forma muitas foram as doenças que se alastraram nos navios e chegaram aos portos, como o sarampo, a diarreia e o escorbuto.
A área de estudos arqueológicos subaquáticos traz aspectos importantes dos navios negreiros. Pesquisando os restos das embarcações e cruzando dados com as fontes documentais do período revelam um pouco da organização destes espaços. Estudos das áreas de arqueologia, arquitetura e história concluíram que os porões dos navios eram normalmente divididos em três níveis: o porão propriamente, onde ficava o armazenamento de água e comida; a falsa coberta onde ficavam os escravizados; e a coberta para a tripulação. Mas, diversos foram os tipos de embarcação que realizaram tais atividades. Algumas foram construídas especificamente para o tráfico de cativos, mas a maioria do comércio foi feita com embarcações antigas adaptadas para este fim.
Por fim cabe lembrar que esta atividade, embora altamente lucrativa, estabeleceu-se com base na exploração e violência contra homens e mulheres africanos. Tratar da escravidão, do tráfico atlântico e do cotidiano dos navios entendendo estes indivíduos apenas como carga humana é relega-los o papel mercadológico a que foram submetidos durante trezentos anos. É preciso destacar a contribuição dos africanos de diversas origens étnicas, suas ações, suas manifestações culturais e seu modo de ser e agir no mundo, que nos formam também enquanto nação.
Referências bibliográficas:
DREGUER, Ricardo. Kiese: história de um africano no Brasil. São Paulo: Moderna, 2015 http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/quem-conta-um-conto http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/peoes-do-trafico http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/frutos-do-mar http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/nas-ondas-do-trafico https://www.youtube.com/watch?v=HbreAbZhN4Q – A Rota dos Escravos – A alma da resistência
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