No período de perseguições aos seguidores de Jesus, entre os séculos I e IV, as primeiras comunidades cristãs viviam sob constante ameaça, mas, ao mesmo tempo, não interromperam a disseminação dos ensinamentos de Jesus – é o chamado criptocristianismo, aplicado a pessoas que se diziam praticantes da religião romana e secretamente eram cristãs. Isso não evitou os massacres ou as execuções públicas que atraíam milhares de romanos aos estádios e circos para ver cristãos serem jogados vivos aos leões famintos, serem crucificados ou queimados vivos. Aí se encontram os mártires: apóstolos vítimas de suplícios como Pedro e André, crucificados, Paulo e Tiago, decapitados, ou Bartolomeu, esfolado vivo.
O termo cristão foi gradativamente adotado para designar a divulgação da doutrina dos Evangelhos, que, escritos em grego, circularam no Oriente Próximo, que tinha nessa língua uma unidade cultural comum, independentemente da região. Daí a expressão grega Iesous Christós, que significa Jesus Salvador, e dela a denominação Jesus Cristo e o termo cristão.
O culto cristão era coletivo, formando uma pequena comunidade que tinha o objetivo de louvar a Deus, o que explica a denominação grega eklésia, que significa assembleia, e o latim ecclesia, como origem da palavra Igreja. Cada comunidade tinha uma liderança na função do epíscopos o papel do bispo ou do presbítero, mas sem a complexa estrutura que conhecemos hoje.
Outro dado relevante foi a gradativa construção de uma linguagem de doutrinação que se consolidou nos textos sagrados e nos primeiros símbolos dos milagres de Jesus (o pão, as uvas e o peixe) e, depois, também em novos elementos, oriundos das várias culturas que concorreram para a construção de uma doutrina cristã ao longo dos séculos.
Uma das primeiras formas de representação foi o chrismon: a sobreposição das letras gregas Χ (“ki”) e Ρ (“rô”), as duas primeiras da palavra Χριστός (Christós), geralmente acompanhadas, à direita, de A (“alfa”) e, à esquerda, de Ω (“ômega”), e o conjunto inscrito num círculo – seu significado remete à dimensão da missão de Jesus Cristo: “o início e o fim de todas as coisas”.
Uma figura típica do cristianismo primitivo é o “bom pastor”, remetendo ao contexto da cultura clássica (Pã com flauta em meio ao campo) e neste processo de transformação, Jesus aparece representado como o pastor que cuida de um rebanho e daí a metáfora do papel de Jesus e ao mesmo tempo, a referência à cultura greco-romana que relacionava tais figuras ao deus Pã ou ao lendário músico Orfeu.
Nas pinturas das paredes das catacumbas se desenvolveu uma iconografia bastante variada como a orans, uma figura feminina representada com os braços elevados para o alto, que remete ao gesto de oração ou mesmo uma representação da alma do morto. Outras temas presentes são os putti, figuras aladas infantis que remetem ao Cúpido ou Eros, além de flores, frutos e jardins e os animais (pássaros, peixes) ou ainda cenas ligadas ao mundo rural (plantio e colheita).
Em Ravena, na Itália, encontra-se o mausoléu e Galla Placídia, uma mulher da aristocracia romana que tivera no século V, uma sofisticada tumba, decorada com mosaicos que trazem o tema do bom pastor, com Jesus como um jovem romano sem barba, apoiado numa cruz que é o seu cajado, iluminado pela luz divina e cercado de ovelhas.
Fontes:
ARGAN. Giulio Carlo. História da Arte italiana: da Antiguidade a Duccio. Vol. I, São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
DUBY, Georges. A Idade Média – Coleção História Artística da Europa. Editora Paz e Terra. 2002.
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