O cardeal francês, Jean Bilhères de Lagraulas, em 19 de novembro de 1497, encomendou a Michelangelo Buonarroti, uma escultura da Pietá ao seu túmulo e assim, providenciou-lhe um bloco de mármore de Carrara.
Bastante comum em esculturas nas regiões da França, Alemanha e Europa Central, a Pietà é o tema que se refere ao Cristo morto, cujo corpo foi deposto no colo de sua mãe, enquanto na Itália era comumente representado em pinturas.
A estátua mede 1,74m x 1,95m e, apesar de esculpi-la rapidamente, em apenas um ano de trabalho, o cardeal Bilhères faleceu em 6 de agosto de 1499, sem vê-la terminada. Dessa forma, foi destinada à capela de Santa Petronilla, junto ao braço meridional da antiga Basílica de São Pedro, onde esse cardeal foi enterrado.
Vinte anos mais tarde, a escultura foi transferida para outra parte da Basílica de São Pedro, ficando na sacristia por um período e em seguida passou para o local atual, está localizada na primeira capela à direita da Basílica, junto à entrada.
Ao esculpir a estátua, Michelangelo desenvolveu um processo ambíguo: de um lado, uma imagem realista, dotada de inúmeros detalhes (roupas, semblante, gestos, etc.) e de outro, promoveu uma ilusão aos olhos do espectador que talvez não perceba, a desproporção entre o corpo de Maria e o de Jesus.
Maria encontra-se trajando uma túnica rica em panos e dobras e isto foi pensado para disfarçar o fato que Maria ficou muito mais alta que Jesus, caso ela estivesse de pé.
A ideia da comoção em virtude da perda do filho por Maria, se reforça pelo fato de estar cabisbaixa e de semblante tenso, que ao mesmo tempo se contrasta com sua juventude, uma possível menção à pureza da Virgem, ou seja, um corpo que não envelhece como os demais.
Pietà foi a única obra assinada por Michelangelo. Numa estreita faixa que se encontra sobre a túnica da Virgem, aparece a inscrição: MICHEL.A[N]GELVS. BONAROTVS.FLORENT[INVS] FACIEBA[T], que em latim significa: Michelangelo Buonarroti, o Florentino fazia. O uso do pretérito imperfeito “faciebat” remete à ideia de um trabalho inconcluso, apontada pelo autor romano Plínio, o velho em seu texto História Natural, onde analisava o modéstia dos artistas gregos Apeles e Policleto, que assinavam suas obras desse modo, portanto, davam a elas a ideia de “algo em progresso e nunca concluído”.
Michelangelo concebeu a Pietà a partir de uma estrutura triangular, sendo a cabeça da Virgem um dos vértices e os demais presentes na base da estátua. Ao abordar o tema, a expressão de desespero, comum na tradição escultória franco-alemã do tema, foi substituída por um gesto de aceitação, marcado pela mão esquerda estendida e aberta: o sacrifício consumou-se e Ele voltará.
Além da Pietà presente na Basílica de São Pedro, existem duas outras estátuas que Michelangelo retomou o mesmo tema: a Pietà Bandini, esculpida em 1547 e a Pietà Rondanini esculpida entre 1552 e 1555.
Sob encomenda de Francesco Bandini, Michelangelo fez a escultura para a sepultura Bandini e hoje se encontra no Museo Dell’Opera del Duomo, em Florença.
Neste trabalho, Michelangelo esculpiu seu rosto como a figura de Nicodemos que ajuda entregar o corpo de Jesus a Maria.
O último trabalho de Michelangelo foi Pietà Rondanini, quando o escultor já estava época com mais de 80 anos. Nesta obra, que se trata de uma reelaboração de um projeto de 1552: a escolha de um alongamento das figuras, explorando a verticalidade, preservando a comoção do tema. Este último trabalho encontra-se exposto no Castelo Sforzesco de Milão.
Fontes:
ARGAN. Giulio Carlo. História da Arte italiana: da Antiguidade a Duccio. Vol. III, São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
GAYFORD, Martin. Michelangelo: uma vida épica. São Paulo: Cosac & Naify, 2015.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/artes/pieta-de-michelangelo/
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