História da Arte

A História da Arte enquanto um campo de estudo tem suas origens associadas ao texto do pintor, arquiteto e escritor toscano Giorgio Vasari (1511-74): “As Vidas dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos” publicado em 1550 e depois reeditado em 1568. Trata-se de um primeiro levantamento que elenca a vida de artistas italianos entre os séculos XIII e XVI.

O texto de Vasari é de natureza biográfica, fazendo uma espécie de inventário da vida e obra dos artistas ali citados e se constituiu como um primeiro relato renascentista sobre a produção artística de sua época.

No entanto, até o Renascimento, a ideia de “arte” conhecida hoje como algo sofisticado e importante, fruto de um processo criativo fecundo não existia. A palavra arte na língua latina, ars, era aplicada para um “saber, um conhecimento” e no grego, techné, significava a mesma coisa, alias, daí veio a palavra “técnica” entendida como um conjunto de procedimentos reproduzidos.

Na Antiguidade e Idade Média, o artesão, o artista ou artífice eram vistos como trabalhadores braçais, de pouco valor. Este conhecimento era transmitido de um artista experiente para um novato, num período de anos.

No medievo, o artesanato, estava sob o controle das corporações de ofício de cada cidade, as quais zelavam por preço, quantidade e qualidade da produção. A corporação tinha uma rígida hierarquia em três níveis: o aprendiz, que entrava na corporação com 8 ou 10 anos, seguindo a profissão do pai, o oficial, jovem que já conhecia a produção mas não tinha a própria oficina, e, por fim, o mestre, grau de quem dominava toda a técnica de produção, podendo ensiná-la, e possuía sua própria oficina.

O processo de consolidação da História da Arte como um campo de estudo foi decorrente do estabelecimento das Academias de Belas Artes que, desde o Renascimento, passavam a aceitar e formar os novos artistas, direcionando uma produção de conhecimento sobre a Arte e suas técnicas.

No século XIX, os escritos relacionados à História da Arte foram pautados na construção de uma série de textos que tinham o caráter enciclopédico e assim, buscavam enumerar as obras e seus autores dentro do conceito de “estilo” e nesse aspecto, várias conceituações hoje consagradas foram se instituindo: os termos Barroco (arte barroca), Gótico (arte gótica) e Românico (arte românica) e Medieval (arte medieval) foram pensados a posteriori.

Destacam-se entre os autores ligados à produção historiográfica do século XIX e início do século XX: Jacob Burckhardt com seu “A cultura do Renascimento na Itália” publicado em 1860; Alois Riegl com “Questões de estilo: fundamentos para uma história do ornamento” de 1895; Aby Warburg e Fritz Saxl na organização da biblioteca e Instituto Warburg (1913-33); Heinrich Wöfflin com “Conceitos fundamentais de História da Arte” de 1915.

À tradição germânica se somaram as reflexões do pensamento francês, a partir do conceito de forma e a expressão deste direcionada pelos estes de Henri Focillon com o livro de 1934, “ A vida das formas” e também os estudos sobre arte e cultura medieval de Émile Mâle, que publicou trabalhos como “A arte no século XII na França” de 1922, “Arte e artistas da Idade Média” em 1927 e “A catedral de Notre-Dame de Chartres” em 1948.

Na linha do pensamento alemão, Erwin Panofsky com seus “Perspectiva como forma simbólica” publicado em 1927 e “Estudos de Iconologia” de 1939, além da nova geração com Ernst Gombrich e seu “ História da Arte” publicado em 1952, que se transformou no manual clássico da disciplina ainda na atualidade.

No pensamento italiano destacou-se com Giulio Carlo Argan (1909-1992) e sua abordagem fenomenológica para entender a produção artística em seu contexto, presente em seus trabalhos como “ Arte moderna” de 1970 e o “ História da Arte como a história da cidade “ de 1983.

Da década de 1990 para a atualidade, as reflexões teóricas de Georges Didi-Huberman presentes nos livros “ O que vemos? O que nos olha?” de 1998 e “Diante da imagem” de 2013, apresentam o criticismo à manutenção de um pensamento estrito à classificação estilística.

Didi-Huberman propõe uma reflexão sobre os elementos tradicionais dos debates historiográficos, valendo-se de ferramentas conceituais diversas, dentre elas, o pensamento freudiano.

Hans Belting explorou as transformações da arte contemporânea e as possibilidades de uma ruptura com a tradição estabelecida pela historiografia com o livro “ O fim da História da Arte” de 1995.

A História da Arte no Brasil

O ensino da História da Arte inicia-se no Brasil pela Academia Imperial de Belas Artes pela Missão Francesa que estruturara a instituição desde 1816, sob a proteção de D. João VI de Bragança. A partir de 1890, mas em limites dos mais precários, até que se encontrasse melhor estrutura junto à Universidade do Brasil (1931).

O desenvolvimento da História da Arte, enquanto disciplina na USP deu-se através de improvisações, até uma sua relativa consolidação que se deu recentemente. Seriam os professores Lévi-Strauss, Roger Bastide e Jean Maügué a trazer, a partir da criação da Universidade de São Paulo em 1934.

Um impulso introdutório aos estudos da arte junto aos alunos desta nova “Missão Francesa”, que em suas respectivas áreas na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, forneceram condições para a formação de novos especialistas neste campo, como a professora Gilda de Mello e Souza.

Na década de 50, o professor Lourival Gomes Machado, catedrático de ciência política e estudioso das artes, particularmente do barroco brasileiro, mas com desempenho também na crítica da arte contemporânea, lecionou a História da Arte na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, adaptada às necessidades da FAU.

A partir de 1962, seria ministrada junto ao Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto, tendo como seu primeiro docente o artista e professor Flávio Motta.

Um maior aprofundamento foi alcançado pela disciplina no Departamento de História da FFLCH (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas), desde o começo da década de 60, cabendo inicialmente ao professor Yves Bruand, diplomado pela École de Chartes e responsável pelas áreas de Metodologia e Teoria da História e Paleografia.

Entre 1962 e 1969, tivemos a responsabilidade da cadeira, assistida por turmas crescentes de estudantes, cujo interesse voltava-se para as etapas artísticas entre o humanismo renascentista e a arte moderna, dando porém atenção a problemas de método da historiografia artística e a elementos de museologia. Em 1968, o Departamento de História implantou o primeiro curso de História da Arte em nível de pós-graduação no país. Como consequência da reforma universitária, o Departamento de História perdeu a disciplina (1970), transferida para os organogramas da ECA. Em compensação, a História da Arte ganhou desenvoltura na escola recém-fundada, onde se criou o curso de Educação Artística em 1972, sendo de relevar que o mestrado inaugurado no Departamento de História, foi por sua vez herdado pela ECA nesse ano. Mais adiante, em 1980, surgiria na mesma unidade o doutorado.

O Departamento de Artes Plásticas tornou-se a célula de outros cursos de pós-graduação em arte no Brasil. É importante considerar no espaço ganho pelas artes na USP é a introdução de coleções de arte e arqueologia nos anos 60, na gestão de Ulhôa Cintra.

Além do fato em si do que representam esses acervos relevantes, no que diz respeito ao ensino e à difusão da arte e dos estudos arqueológicos (instalados no campi oeste USP na década de 60), sua presença tem sido de inestimável valor para cursos das mais variadas naturezas no decorrer dos últimos 30 anos.

O MAC (Museu de Arte Contemporânea) e o MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia), aos quais se acrescenta o IEB (Instituto de Estudos Brasileiros), formam um tripé nesse sentido, incluindo-se os serviços de orientação pedagógica que prestam no atendimento ao público em geral.

O ensino prático-teórico da velha academia do Rio de Janeiro irradiou-se para outras escolas de Belas Artes do país, a começar da Bahia. Com a criação dos cursos de licenciatura em educação artística (1970), a História da Arte permaneceu dirigida fundamentalmente para a formação de artistas.

O Instituto de Artes da UNESP (Universidade Estadual Paulista) instituiu o bacharelado em Artes Visuais a partir de 1991 e por conseguinte, a partir de 2004 instituiu o programa de Pós-Graduação com pesquisadores no nível de mestrado e doutorado.

Destaca-se também, a partir do ano 2000, a criação da linha de pesquisa em História da Arte pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) para o desenvolvimento de pesquisas de mestrado e doutorado, tanto nas temáticas ligadas à arte nacional quanto à arte internacional.

Em 2009, a expansão da Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP), através do seu campi em Guarulhos instituiu o primeiro bacharelado em História da Arte e já consta com um programa de pós-graduação no nível de mestrado desde 2013.

Fontes:

ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

GOMBRICH, Ernst. História da Arte. Rio de Janeiro: Editora LTC, 16ª edição. 1996.

JANSON, H.W. . Introdução à História da Arte. São Paulo: Editora Martins Fontes. 1996.

ZANINI, Walter. Arte e história da arte. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/65493/mod_resource/content/1/Zanini%20Hist%C3%B3ria%20da%20Arte%20Revista%20Estudos%20Aven%C3%A7ados.pdf

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