O retrato do Casal Arnolfini foi um quadro pintado por Jan van Eyck (1390-1441) sob encomenda do rico mercador Giovanni Arnolfini em 1434 e encontra-se exposto desde 1842 na National Gallery, em Londres.
Trata-se de uma quadro pintado a óleo sobre tábua de carvalho e mede 81,8 x 59,7 cm. Pode ser entendido como uma espécie de “certidão de casamento” de Giovanni di Nicolao Arnolfini e Giovanna Cenami, ambos italianos abastados, originários de Lucca (Toscana), que se estabeleceram na cidade de Bruges, na região de Flandres que integrava o Ducado da Borgonha e hoje, é o Reino da Bélgica.
Os trabalhos de Jan van Eyck são um exemplo da riqueza técnica e pictórica da pintura flamenga, estabelecendo-se como uma transição entre a arte gótica (chamado de gótico tardio por alguns especialistas) e a arte renascentista.
Arnolfini e a sua esposa casam-se na intimidade de sua casa, algo que era reconhecido, desde que ocorresse na presença de duas testemunhas, as quais encontram-se representadas no reflexo do espelho atrás do casal, em pé junto a porta e vestem azul e vermelho.
O quadro é dotado de uma rica simbologia para expressar a celebração do casamento: Ao lado do espelho encontra-se pendurado um rosário, presente de noivado dado a Giovanna. O pintor assinou sua obra, em latim, um pouco acima do espelho: "Johannes van Eyck fuit hic 1434" (Jan van Eyck esteve aqui em 1434).
Apesar da cerimônia ocorrer no ambiente profano (fora da igreja), os elementos religiosos se fazem presentes: o rosário, a moldura do espelho que contém imagens da Paixão de Cristo e o candelabro de sete braços que contém apenas uma vela, simbolizando o “olho de Deus” .
O cão de companhia pode interpretado uma alusão à fidelidade, almejando os elementos de um lar próspero, estável e tranquilo. Os noivos encontram-se descalços, uma menção à humildade e a santidade do momento da cerimônia, assim, descalçaram-se por estarem momentaneamente “em solo sagrado” na presença de Deus.
Van Eick retratou o casal de forma solene, hierática numa composição praticamente escultural, impondo o mesmo padrão ao cão. A posição dos noivos no centro da tela e o ponto de fuga estabelecido no espelho conferem simetria a imagem.
Giovanni Arnolfini traja um sóbrio manteau de pele, típico da corte do Duque de Borgonha, onde ocupara cargos de grande importância, além de ser descendente de uma família de ricos mercadores italianos com negócios estabelecidos em Bruges.
Giovanna Cenami, também de origem italiana, traja um suntuoso vestido verde, rico em extensão e acabamento. O fato de aparecer com o ventre proeminente e ao mesmo tempo usar verde são alusões ao desejo de fertilidade e por conseguinte, continuidade da família. No entanto, Giovanna não engravidou de Giovanni.
Os objetos presentes no ambiente doméstico apontam tanto para a simbologia do casamento como para a prosperidade material do casal: a cama com dossel e cortinas abertas (a consumação do casamento e a suntuosidade da vida de grandes cortesãos); as laranjas sobre o móvel próximo (a inocência do Éden antes do Pecado Original e a riqueza de ter acesso à iguarias) e o tapete oriental (proveniente talvez da Anatólia ou da Pérsia).
Antes de ser adquirido pela National Gallery, o retrato dos Arnolfini fora patrimônio da Arquiduquesa Margarida de Áustria, governadora de Flandres em 1516, após a extinção da linhagem dos Duques de Borgonha.
Entre 1516 e 1794, foi mencionado em inventários da Casa Real espanhola, circulando entre a coleção do Museo del Prado e o antigo Palácio Real de Madrid. Durante a ocupação francesa, foi saqueado por Napoleão Bonaparte junto de outras obras de arte que não chegaram à França por causa de interceptação pelos ingleses.
Um oficial britânico, o coronel James Hay, presenteou o rei George IV com a tela, que ficou com ela entre 1816 e 1818, sendo devolvida ao coronel Hay e por fim, depois de alguns anos armazenada num depósito foi arrematada pela National Gallery.
Fontes:
TARABRA, Daniela. National Gallery: Londres. São Paulo: Editora Publifolha, 2009.
LABNO, Jeannie. Os segredos do Renascimento. São Paulo: Editora Publifolha, 2012.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/artes/o-casal-arnolfini/
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