Arte românica

O termo “românico” é uma denominação à posteriori, empregada pela primeira vez pelo arqueólogo francês Arcisse de Caumont (1801-1873) na obra "História da arquitetura religiosa, civil e militar" , publicada em 1830, a qual fazia referência à arte da Alta Idade Média. Atualmente, este termo se refere à produção artística da Europa Ocidental entre os séculos VIII e XII.

Plantas em forma de basílica, suas abóbodas e arcos de circunferência, suas colunas e capitéis, mosaicos e afrescos retomam a cultura da cristandade clássica e bizantina, utilizando-se de certa forma, dos mesmos símbolos: a valorização do passado, a legitimação do poder temporal pelo espiritual, a importância da cultura escrita e por sua vez do livro.

A característica principal da arte românica está na relação com a vida rural da Alta Idade Média e ao mesmo tempo, com a efervescência cultural dos mosteiros e abadias, os quais foram o repositório de parte da cultura greco-romana.

Lintel da Basílica de Sainte-Marie Madeleine (Vezelay - França). Foto: Khun Ta / Shutterstock.com

Apesar da forte influência religiosa, as representações artísticas possuem uma fronteira tênue entre realidade/fantasia; sagrado/profano; místico/concreto e assim, esboçava-se, no chamado medievo, uma mentalidade onde o natural e o sobrenatural integravam-se, dando uma visão nebulosa num mesmo fluxo de ideias.

A passagem do Milênio e as reflexões sobre o Juízo Final, e de temas correlatos, como a “Pesagem da Alma”, presentes nos tímpanos nas entradas da igrejas, além de menções ao texto do Apocalipse e assim, uma proposição sobre a fugacidade da vida face ao destino: salvação ou danação.

O marco da estrutura arquitetônica do românico são elementos de inspiração clássica: arcos em semicircunferência, capitéis adornados, paredes espeças e janelas pequenas. As plantas remetem à basílica retangular romana ou aos octógonos presentes no mundo oriental cristão (Bizâncio) e islâmico; mas quando o as estruturas cruciformes começaram a se desenvolver, observa-se tanto a influência da cruz grega quanto da cruz latina na organização dos prédios.

Os tímpanos das igrejas francesas de Conques, Moissac e Vezelay se valem do recurso da narrativa estruturada pelas imagens em relevo, porém as representações constroem uma hierarquia: a arquitetura vem em 1º plano, pois está relacionada à geometria, na época uma própria expressão da divindade; em 2º plano, a escultura, ligada aos gestos e ações do mundo natural e sobrenatural e por fim, em 3º plano, a pintura.

Alguns governantes, como Carlos Magno e seus descendentes buscaram a integração com os referências do Império Romano, visíveis por exemplo na arquitetura e mosaicos do Palácio Imperial de Aix-la-Chapelle (hoje Aachen na Alemanha) e dai a ideia de um “Renascimento Carolíngio” que cruzou referências imperiais do Ocidente e Oriente.

Cúpula da catedral de Aachen (Alemanha). Foto: lingling7788 / Shutterstock.com

Nesse processo, o patrocínio de mosteiros e abadias, os principais centros de conhecimento do contexto, promoveu a ampliação das comunidades monásticas e de muitos scriptoria, que produziam os livros iluminados, além de organizarem grandes bibliotecas, como por exemplo, o mosteiro de Monte Cassino na Itália ou Cluny na França, assim estruturava-se o clero regular, sendo a Ordem de São Bento a pioneira.

Nas regiões ligadas ao Império Bizantino, como Monreale na Sicília ou Ravena e Veneza no nordeste da Itália, foi marcante a presença dos mosaicos, oriundos da tradição romana e aprimorados com recursos cromáticos que envolviam, por exemplo, o uso de folhas de ouro compondo o fundo para as imagens dos governantes como o imperador Justiniano em Ravena, ou do Deus Todo Poderoso em Monreale, gozassem da mesma aura divina.

Fontes:

RAMALLO, Germán. A Arte Românica. Coleção Saber Ver. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1992.

LOYN, Henry R. (org.) Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1991.

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