Sonhos

É possível refletir sobre as questões do sonho, do mundo onírico, sob diversas ópticas. A seguinte proposta é discursar sobre as mesmas com base na Psicanálise, especialmente em um retorno a Freud.

Antes de dissertar sobre essa manifestação do inconsciente, ressalta-se que todos podem ler conteúdos de Psicologia, apesar de somente os profissionais poderem exercê-la. Ademais, é importante que o leitor não tenha intenções de se autoanalisar, afinal, esta não é uma atividade a ser feita sozinho, pois necessita do analista e da transferência entre ele e o analisando. Por mais, a autoanálise dos sonhos, apesar de tentadora, não deve ser realizada, uma vez que o sujeito esbarrará em sua própria resistência.

Dados estes entendimentos, uma breve história: foi Aristóteles o primeiro a remover o sonho do campo mítico, convertendo-o em produto advindo da psiquê (alma). Assim, com o advento e crescente avanço das ciências tal como conhecemos, o mesmo tornou-se declaradamente do interesse da Psicologia. Entretanto, seguiu-se a carência de esclarecimento e significação em relação a sua função biológica, assim como na possibilidade de interpretação de seus conteúdos com significados individuais. Até que eis a Psicanálise.

Uma vez citados os gregos, engata-se uma enunciação que norteará o início deste raciocínio psicanalítico, oposto ao deles: o trabalho do sonho não segue os princípios lógicos fundamentais. Se, segundo a lógica Aristotélica tão familiar a contemporaneidade, há os princípios de identidade (A é A), contradição (A é A e não pode ser não-A) e terceiro excluído (A é X ou não X), no sonho, não se pode universalizar tais afirmações, tampouco encerrar-se em silogismos (enunciado universal - enunciado particular = conclusão particular). No onírico, acontece junção e disjunção, ou seja, A pode ser A e também não-A, assim como A é X e A não é X.

Enfim, os sonhos são atividades psíquicas. Ao narrarmos um sonho, referimo-nos ao seu conteúdo manifesto, ao que é acessível à consciência. Por mais, deve-se ter em mente que todas as lembranças dos sonhos estão sujeitas a uma objeção capaz de depreciar imensamente o seu valor a um olhar crítico: se tanto é omitido, como garantir o que não é falsificado? Dado nosso empenho na busca dial de coerência, por que não suspeitar se não completamos as deficiências de sentido com a lógica Aristotélica com a qual estamos acostumados?

Logo, como saber da matéria não captada, do conteúdo latente do sonho, aquele que é modificado para transformar-se em manifesto, cerceado pelos aparelhos de censura? Eis a análise, com o trabalho interpretativo do analista, utilizando contumazmente a técnica da associação-livre.

Então, este fenômeno de deformação do sonho é denominado por Freud como elaboração onírica. Seus mecanismos de ação são descritos como condensação, que ocorre quando um elemento manifesto corresponde simultaneamente a vários outros combinados entre si; deslocamento, quando um elemento latente é substituído por uma alusão e não uma parte componente de si mesmo; e figurabilidade, a transformação de pensamentos em imagens visuais. Também se atesta a aparição de restos diurnos, imagens vistas durante o dia e consideradas desimportantes, esquecíveis, pela consciência.

Dessa forma, é visto que, segundo as lentes da psicanálise freudiana, os sonhos são trabalhos psíquicos, manifestações do inconsciente. Esse mundo onírico é particular, rico e não totalmente acessível depois do acordar. Dessa forma, não são avisos ou premonições, e sim da ordem do mundo interno do sujeito. Por mais, suas interpretações são únicas, não contam com fórmulas exatas ou significados prévios, cabendo unicamente ao processo de análise do sujeito.

Referencial teórico: Freud – A Interpretação dos Sonhos

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