A sexualidade humana é uma questão diversa e multidimensional, composta por aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais.
Dificuldades na vida sexual não coercitiva podem ser compreendidas em todos seus componentes. Segundo a CID-11 (Classificação Internacional de Doenças, publicada pela Organização Mundial de Saúde), a persistência destas, associadas a significativo sofrimento, é condição para a consideração das disfunções sexuais.
Eis algumas delas:
Transtorno da dor gênito-pélvica
Anteriormente chamado de dispareunia, consiste em dificuldades recorrentes quanto à penetração vaginal durante o ato sexual, caracterizadas por forte dor vulvovaginal/pélvica decorrente de marcante contração dos músculos do assoalho pélvico. O transtorno pode estar associado a questões psicológicas e problemas ginecológicos como vulvoestibulite, atrofia vulvovaginal e dor abdominal crônica.
Transtorno erétil: antes chamado de impotentia coeundi, consiste na falha do sujeito em alcançar ou manter a ereção até o fim do ato sexual.
A ereção reflexa é controlada pelo plexo sacral e pelos nervos pudendo e erigente, e a mediada por mecanismos “psicogênicos” é influenciada pelo córtex cerebral e pelos plexos simpáticos toracolombares e parassimpáticos sacrais. Assim, as causas da disfunção são o resultado da soma de componentes orgânicos e psicogênicos, resultando em uma intersecção de fatores psicológicos, neurológicos, vasculares, endócrinos e mecânicos. Ademais, há associação a condições como depressão, abuso de álcool, hipertensão, diabetes, apneia de sono e insuficiência cardíaca e renal.
Transtornos da ejaculação: São apresentados de duas formas.
A primeira é a de ejaculação precoce, é caracterizado por ejaculação muito rápida (geralmente em menos de um minuto), antes do sujeito desejá-la. Na maioria dos casos, é de base predominantemente psicológica e psicodinâmica, mas pode estar associada a condições médicas como prostatite, epididimite e uretrite.
A segunda consiste na ejaculação retardada, na qual há atraso indesejado da ejaculação, ou baixa frequência/ausência desta. Causas comuns são o uso de antidepressivos serotorninérgicos, a perda dos nervos sensoriais periféricos de condução rápida, cirurgia de bexiga e redução na secreção de hormônios sexuais (frequentemente associada à idade do indivíduo).
Hipersexualidade: é a condição denominada, na história da psicopatologia, como “satiríase” no caso de homens e “ninfomania” no de mulheres. Consiste, disfuncional e dolorosamente, em impulsos e comportamentos sexuais excessivos.
O transtorno pode ser primário ou sintomático a outras condições. No segundo caso, é frequente a associação à desinibição nos quadros de mania aguda do transtorno bipolar. Por mais, também pode ocorrer em casos de abuso de anfetaminas, uso de L-dopa ou cirurgia de estimulação de núcleos subtalâmicos em pacientes com doença de Parkinson, em quadros orgânicos com hipofrontalidade (lesões nas áreas pré-frontais do cérebro) e quadros demenciais.
A sexualidade é um tema historicamente estigmatizado.
É essencial, portanto, considerar o contexto ao qual cada uma está inserida e as variáveis sociais e individuais que a atravessam.
Assim, há a sugestão de Lacan: “deve renunciar à prática da psicanálise todo analista que não conseguir alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época”.
Os transtornos sexuais podem ser tratados com acompanhamento psicológico e médico - endócrino, neurológico, vascular, psiquiátrico, ginecológico ou urológico, a depender de cada caso - possivelmente em associação à medicação e a terapias complementares.
Referências bibliográficas:
Cid 10: http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/cid10.htm
DSM-V, bg pharma, and the medicalization of ordinary life. New-York: Harper Collins Publisher, 2013a.
RAFIA: 1. Dalgalarrondo, P Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre, 2000. Editora Artes Médicas do Sul
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