Classicismo é uma estética literária do século XVI, manifestação nas letras de um movimento cultural amplo denominado Renascimento – houve manifestações renascentistas em diversos âmbitos da sociedade: política, ciências, religião, artes plásticas, arquitetura, literatura. Por isso é comum alguns teóricos denominarem o Classicismo de Renascimento ou Seiscentismo.
Enquanto movimento cultural, o Renascimento teve grande importância na sociedade europeia. No campo das ciências, foram as inovações desse período que possibilitaram as grandes navegações. Foi também nesse período que grandes gênios como Leonardo da Vinci inovaram no campo da arquitetura e das artes plásticas.
Para compreender o Classicismo precisamos compreender um movimento que ocorreu antes denominado Humanismo. Humanismo é uma corrente filosófica de valorização do homem e tudo que diz respeito ao homem. Essa corrente, que já começa a aparecer no final do século XV, defende o antropocentrismo (antropo = homem + centrismo) em oposição ao teocentrismo (teo = Deus). O poder da Igreja passa a ser questionado (Reforma luterana) e o ser humano recebe maior importância (o ser humano é criatura divina, criado como Deus idealizou). O humanismo será a base filosófica do Renascimento e, por conseguinte, do Classicismo.
O autor mais importante desse período em Portugal foi sem dúvida Luís Vaz de Camões. Sua obra é dividida em épico, lírico e dramático.
Os sonetos camonianos sejam, talvez, os melhores da literatura em língua portuguesa. Sua obra lírica possuía complexidade formal com rebuscados sonetos decassílabos (poema com dois quartetos e dois tercetos e versos com dez sílabas métricas) e o desenvolvimento de temas como o desconcerto² do mundo e a efemeridade da vida. Outra temática muito comum é a mutabilidade da vida: a vida é efêmera e mutável (muda constantemente).
MUDAM-SE OS TEMPOS...
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria, E enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía.
O desconcerto do mundo e o sofrimento do poeta:
ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE
Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida descontente, Repousa lá no Céu eternamente, E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento Etéreo, onde subiste, Memória desta vida se consente, Não te esqueças daquele amor ardente, Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te Algũa cousa a dor que me ficou Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me leve a ver-te, Quão cedo de meus olhos te levou.
Notas:
1 Paganismo nada tem a ver com satanismo. Chamamos de paganismo quaisquer religiões não monoteístas.
2 Desconcerto = desarmonia
3 Soía = verbo soer; costumar
Bibliografia:
FERREIRA, Joaquim. História da literatura portuguesa. Porto, Ed. Domingos Barreira, s/a.
RAMOS, Feliciano. História da literatura portuguesa. Braga, Livraria Cruz, 1967.
CRUZ, Marques da. História da literatura. São Paulo. Cia melhoramentos, s/d.
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