Chamamos de Indianismo a corrente romântica de valorização do índio que se viu na literatura brasileira. A presença do índio como herói é vista desde a literatura colonial, mas foi no Romantismo que essa concepção se sobressaiu e marcou a nacionalidade brasileira.
Desde o Quinhentismo o índio é tema literário. Nessa primeira escola literária, vemos uma descrição do índio, às vezes, quase fidedigna (fiel à realidade), outras, contaminadas pelas noções culturais do observador português. Por exemplo, para alguns escritores quinhentistas o índio era bárbaro, cruel, não civilizado. Para outros, apenas exóticos. A valorizações do índio, entretanto, já se mostra no Arcadismo com Uraguai, de Basílio de Gama. Nesse período, o índio já é visto como herói e isso se deve ao "mito do bom selvagem" de Rousseau que afirma que todos nascem bons e que a sociedade os corrompe. Por valorizar o índio, Basílio da Gama é visto como um precursor do Romantismo. O termo indianismo só passou a ser usado, porém, com o romantismo.
O indianismo romântico ganha contornos nacionalistas. O índio era o passado histórico da recém-independente nação: era o genuíno filho da terra, o verdadeiro brasileiro. A ideia do índio como o primeiro brasileiro ajudou a consolidar os ideais nacionalistas no Brasil.
Tanto a prosa quanto a poesia românticas tiveram manifestações indianistas. Na poesia, na Primeira geração romântica, Gonçalves Dias e seu poema I-Juca Pirama mostram um índio virtuoso, corajoso, nobre de caráter. É verdade que a visão que se tem do índio é bastante europeizada, ou seja, é a construção de um índio que se tem no imaginário europeu e não como ele realmente é. Na prosa, José de Alencar traz um índio como herói nacional e fundador da nação.
A figura do índio mostra o nacionalismo ufanista que se viu no romantismo brasileiro: era preciso apagar a hereditariedade lusitana, por isso, criou-se um símbolo que se afastasse da lembrança aristocrática. Não só isso, a figura do índio reflete outra característica romântica: o apego ao passado e ao medievalismo. Como não temos um passado de cavaleiros medievais, seria natural que nosso passado remontasse ao índio, a um período pré-colonial.
José de Alencar produziu os romances indianistas O Guarani, primeiro romance do autor e Iracema. As obras mostram um índio cordial e amigo do colonizador. Iracema, em especial, recebe o subtítulo de Lenda da formação do Brasil. O próprio título, e nome da protagonista, é um anagrama de América, mostrando o índio como o verdadeiro brasileiro.
Essa ideia do índio como o verdadeiro brasileiro será vista em outro momento, no Modernismo, estética do século XX. Na obra Macunaíma, de Mario de Andrade, a personagem-título, o índio Macunaíma é a essência do brasileiro ardiloso, mas sempre em buscando um bem maior. A visão do índio é um pouco diferente, menos idealizada e europeizada.
Bibliografia:
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro, Ouro sobre azul, 2007, pp. 25-7.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo, Cultrix, 2012.
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