O simbolismo é uma estética literária do século XIX que se opõe à objetividade parnasiana. Pode-se observar no simbolismo uma revivescência romântica.
Assim como o parnasianismo, o simbolismo tem sua origem na França e seu principal poeta foi Mallarmè. Mesmo na França, onde se originou, o simbolismo foi um movimento curto e conturbado. Um dos principais nomes desse movimento foi o poeta realista Charles Baudelaire. Alguns chegam a considerá-lo como simbolista, tal sua importância para o movimento, entretanto, quando o simbolismo se configura na França, Baudelaire já não estava vivo. Assim, podemos dizer que o poeta foi um pré-simbolista, um precursor do movimento.
Ao contrário dos parnasianos que defendiam o rigor formal do verso, os simbolistas buscavam uma poesia voltada a efeitos sonoros, com certa musicalidade. Assim, eram comuns figuras de linguagem como assonância e aliteração. Os poetas simbolistas rejeitam o rigor e a disciplina parnasiana.
Há um apelo ao metafísico, ao inconsciente, ao mundo espiritual. Para dar conta dessa nova realidade é preciso uma linguagem simbólica o suficiente que possa sugerir em vez de descrever. O poeta simbolista sente-se desconfortável no mundo, e é tomado de um profundo pessimismo que o leva a valorizar a morte, o soturno, o mistério. Esse gosto pela fúnebre levou o simbolismo a ser chamado de decadentismo. Esse desconcerto do mundo é reflexo da frustração que todo o avanço tecnológico da era realista causou: havia uma grande euforia em relação à ciência, mas os avanços não são para todos. Nesse aspecto, o simbolismo aproxima-se do romantismo: tende a fugir do mundo físico que não apraz, não satisfaz.
A publicação da obra Oaristos (1890), de Eugenio de Castro é o marco do simbolismo lusitano e surge num momento de crise política e econômica em Portugal: havia um ambiente propício à mudança de pensamento. A nova concepção estética passou a ser muito debatida entre os intelectuais da época. Eça de Queirós, romancista realista, chegou a publicar um ensaio “Positivismo e idealismo” no qual observa uma reação contra o positivismo e a objetividade realista-naturalista-parnasiana. Essas inovações representaram, em Portugal, uma quebra de continuidade artísticas e foram bastante criticadas tanto pela intelectualidade quanto pelo público.
Os autores simbolistas se valiam de “temas do sonho evasivo, da intuição vidente, da mística oculta, bem como a estilística de símbolos indeterminados e sinestesias”¹ aliadas ao historicismo, ao regionalismo, a um nacionalismo sebastianista (desejam o retorno de D. Sebastião, desaparecido em batalha) e um idealismo religioso.
Dos nomes mais conhecidos do simbolismo lusitano temos Camilo Pessanha e Florbela Espanca.
A Camilo Pessanha se deve os melhor conjunto de poemas do simbolismo lusitano que exerceram profunda influência na geração de Orfeu do Modernismo. Pessanha criou uma arte muito voltada à musicalidade e com cuidado extremo de eliminar qualquer manifestação previsível de sentimentalismo.
Caminho - Camilo Pessanha
Tenho sonhos cruéis; n’alma doente Sinto um vago receio prematuro. Vou a medo na aresta do futuro, Embebido em saudades do presente...
Saudades desta dor que em vão procuro Do peito afugentar bem rudemente, Devendo, ao desmaiar sobre o poente, Cobrir-me o coração dum véu escuro!...
Porque a dor, esta falta d’harmonia, Toda a luz desgrenhada que alumia As almas doidamente, o céu d’agora,
Sem ela o coração é quase nada: Um sol onde expirasse a madrugada, Porque é só madrugada quando chora.
Interrogação - Camilo Pessanha
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar, Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo; E apesar disso, crê! nunca pensei num lar Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito. E nunca te escrevi nenhuns versos românticos. Nem depois de acordar te procurei no leito Como a esposa sensual do Cântico dos cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo A tua cor sadia, o teu sorriso terno... Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio Da luz crepuscular, que enerva, que provoca. Eu não demoro a olhar na curva do teu seio Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo... Eu não sei que mudança a minha alma pressente... Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço, Que adoecia talvez de te saber doente.
A obra de Florbela Espanca, editada a partir de 1919, é marcada por um profundo erotismo e estimula a emancipação da literatura feminina, exprimindo as mais profundas frustrações humanas.
Sonhos - Florbela Espanca
Ter um sonho, um sonho lindo, Noite branda de luar, Que se sonhasse a sorrir... Que se sonhasse a chorar...
Ter um sonho, que nos fosse A vida, a luz, o alento, Que a sonhar beijasse doce A nossa boca... um lamento...
Ser pra nós o guia, o norte, Na vida o único trilho; E depois ver vir a morte
Despedaçar esses laços!... ...É pior que ter um filho Que nos morresse nos braços!
Leia também:
Bibliografia:
¹ BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo, Cultrix, 2012.
CASTELLO, Jose Aderaldo. Presença da Literatura brasileira: Do Romantismo ao simbolismo. Rio de Janeiro, Difel, 1978, pp 99-23.
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro, Ouro sobre azul, 2007, pp. 25-7.
RAMOS, Silva. Poesia simbolista. São Paulo, Editora Melhoramentos, 1967.
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