Chamamos de ultrarromantismo a corrente romântica de gosto pela melancolia, pela morbidez e pelo soturno (sem alegria).
O romantismo tanto no Brasil quanto na Europa desenvolveu um gosto pela melancolia e pela morbidez. E isso deve principalmente pelo mal estar do poeta no mundo. Esse sentimento de mal estar já era visto na estética romântica como um todo, mas no ultrarromantismo foi superlativada, exagerada, destacada.
O principal nome do ultrarromantismo e que influenciou diretamente a geração brasileira foi Lord Byron. O poeta trazia o gosto pelo soturno e pela melancolia e muitas vezes pelo satânico. Em 1811, publica os dois primeiros cantos de Peregrinação de Childe Harold, a obra obteve sucesso imediato pelo estilo sentimental. Em 1814, publicou O Corsário e, em 1816, O Cerco de Corinto.
No grupo de Lord Byron, outros poetas de renome como Percy Shelley e Hobhouse, Fletcher, John Polidori. Nesse grupo, também havia uma mulher, a esposa de Percy, Mary Shelley. Mary foi responsável por escrever a mais importante obra do ultrarromantismo, o romance gótico Frankenstein.
O ultrarromantismo francês teve influência também de Lord Byron. A poesia de Vitor Hugo, Lamartine e Vigny se tornam mais pessoais. Houve na França algo chamado dandysmo (como a boêmia brasileira). Um grupo, do qual fazia parte Vitor Hugo, chamado de Infantes perdidos, via a literatura como o que decifra os segredos do universo para substitui-lo pelo mundo poético. A tendência ao macabro e ao cenário gótico escandaliza, mas são vistos como um “esforço de condensar a angústia de existir”.
O ultrarromantismo português também valorizava o mórbido e o melancólico. Alguns poetas se tornam muito populares como Soares de Passos e seu poema Noivado do Sepulcro, de 1852. O espírito do poeta foi influenciado pelo corpo doente. Sua imaginação mórbida, seu exotismo macabro, deixou trechos de exacerbado sentimentalismo. Sua poesia era sempre soturna, não havendo nenhuma alegre. Havia um sentimento de repulsão à vida, como se viu em outros poetas da época. Era um verdadeiro desgosto de viver. Como era comum, o poeta morreu jovem, aos 34 anos.
Definitivamente foi Lord Byron que fomentou o ultrarromantismo pela Europa. E sua influência foi fundamental no Brasil. O ultrarromantismo brasileiro também denota um profundo desgosto de viver: cenários mórbidos, poemas melancólicos e musas lânguidas foram algumas características dessa segunda geração romântica.
Alvares de Azevedo fora certamente o nome que mais se sobressaiu nesse período. Publicou uma das mais importantes obras do gótico brasileiro, Noite na Taverna de 1855. A obra narrativa é considerada um romance híbrido. Traz toda a atmosfera mórbida da época. Na poesia, o poeta também se sobressaiu. No poema Se eu morresse amanhã, o poeta mostra o lado soturno do lirismo ultrarromântico. Os últimos versos do poema representam bem essa angústia de viver que dominou os ultrarromânticos aqui e na Europa.
“Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!”
Bibliografia:
BENAC, Henri. O romantismo francês. Revista Organon, v. 8, n. 8/9, 1963.
FERREIRA, Joaquim. História da literatura portuguesa. Porto, Ed. Domingos Barreira, s/a.
RAMOS, Feliciano. História da literatura portuguesa. Braga, Livraria Cruz, 1967, pp 33-54.
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