Humanismo

Em literatura, chamamos de Humanismo, ou Segunda época medieval, o período de transição entre o Trovadorismo e o Classicismo, entre os séculos XIV e XV. Também chamamos de Humanismo a corrente filosófica que serviu de base para esse período e para o movimento posterior, o Renascimento cultural.

Em meados do século XIV, o gosto pela poesia declina. Os travadores começam a produzir bem menos e com a morte de D. Dinis (o maior trovador lusitano), a Corte começa a perder sua importância cultural. Em substituição à literatura que ruinava, surgiu uma literatura em prosa. Historicamente, ocorria a unificação política de Portugal por D. Afonso III.

Na Segunda época, produziu-se prosa (crônicas e novelas de cavalaria), poesia palaciana e teatro.

A corrente humanista, base dessa transição, defende uma valorização de tudo que diz respeito ao homem, tendo como principal característica o racionalismo. Por isso, a prosa que se produziu tendia ao registro histórico (viés racionalista) como ocorreu com a prosa de Fernão Lopes ou ao registro de comportamentos humanos como ocorreu com o teatro de Gil Vicente.

Crônicas, cronicões, hagiografias e nobiliários

O racionalismo na literatura é marcado pelas crônicas de Fernão Lopes, nomeado, em 1418, cronista-mor da Torre do Tombo (uma espécie de registro civil lusitano), sendo responsável pela genealogia da coroa lusitana. Havia no cronista uma preocupação histórica, por isso também chamamos essa produção de historiografia. Fernão Lopes é considerado o primeiro grande prosador em língua portuguesa (que já se apresenta mais próxima da língua moderna) e escreveu, basicamente, nobiliários e crônicas sobre as dinastias lusitanas. Os nobiliários tinham função crucial – traçavam a genealogia e se evitavam assim casamentos consanguíneos até o sétimo grau. As hagiografias que narravam a vida de santos também eram importantes prosas nesse período haja vista a forte mentalidade religiosa medieval. Houve também os cronicões, breve relato da vida de alguns reis, mas sem a genialidade de Fernão Lopes.

As novelas de cavalaria

Além da prosa histórica, as novelas de cavalaria tiveram grande importância para a história literária portuguesa. Tratavam de temas envolvendo os cavaleiros medievais - classe social de grande prestígio. Foram três os ciclos das novelas:

  • ciclo clássico: temas da antiguidade clássica, como a guerra de Troia;
  • ciclo carolíngio: narra proezas do imperador Carlos Magno e seus doze pares;
  • ciclo bretão: foi seguramente o mais importante dos ciclos e narra a saga de Rei Artur e dos cavaleiros da Távola redonda.
  • Dentre a mais conhecida novela está a Demanda do Santo Graal. Esses temas eram muitíssimos apreciados pelos lusitanos, sendo constantemente reeditados.

    O teatro de Gil Vicente

    Outro grande nome da Segunda época o teatrólogo Gil Vicente. Este teatrólogo tende a ser considerado autor da Segunda época medieval, no Brasil, mas a tradição lusitana o enquadra no Classicismo. Como teve obras publicadas por quase 40 anos, tende-se a inclui-lo nos dois períodos. É importante ressaltar que para a tradição lusitana, não houve clara distinção entre Segunda época e Renascimento (Classicismo), sendo impossível marcar uma separação clara. A obra vincentina era dividida em 1) hieráticas (obras de devoção); 2) Aristocráticas (tragicomédias); 3) Populares (farsas). Das obras mais importantes temos a trilogia das barcas com Auto da Barca do Inferno (1517), Auto da Barca do Purgatório (1518) e Auto da Barca da Glória (1519).

    Bibliografia:

    FERREIRA, Joaquim. História da literatura portuguesa. Porto, Ed. Domingos Barreira, s/a.

    RAMOS, Feliciano. História da literatura portuguesa. Braga, Livraria Cruz, 1967, pp 8-190.

    SARAIVA, Antonio José. História da cultura em Portugal. Vol II. Gil Vicente Reflexos da Crise. Lisboa, Gradiva, 2000.

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