O colostro é o primeiro leite produzido pela mãe após o parto, o qual possui papel importante na imunidade do recém-nascido e no seu amadurecimento intestinal. Ele difere do leite maduro em sua composição, aparência e volume. O colostro é produzido durante cinco dias após o parto e vai modificando-se ao longo dos processos sucessivos de lactação, até que o leite secretado se torne maduro, após duas ou três semanas, e passe a desempenhar função prioritariamente nutricional para o bebê.
A composição do colostro pode variar entre as mulheres, devido ao seu estado nutricional, obesidade, sobrepeso e histórico de infecções e imunizações ao longo da vida. No entanto, apresenta como características básicas uma menor concentração de lactose, potássio e cálcio e maior índice proteico, lipídico, de sódio, cloreto e magnésio em relação ao leite maduro, além de possuir compostos de valor imunológico, lactoferrina, leucócitos e fatores de crescimento.
As funções primárias do colostro são imunológicas e tróficas, já a função nutricional é secundária. Ele é liberado em pequenas quantidades e, por isso, facilita a ingestão para o recém-nascido, o qual possui um estômago ainda muito pequeno. Dentre os compostos multifuncionais do colostro, temos:
No início da lactação, o lactente pode consumir até 1010 leucócitos maternos por dia, dentre eles estão macrófagos, linfócitos, células T e células-tronco. A maior parte são os macrófagos, os quais desempenham suas funções típicas, podem se transformar em células dendríticas e potencializar a atividade das células T. Assim, eles conferem proteção contra patógenos e auxilia no amadurecimento do sistema imunológico do bebê. No entanto, essas células são capazes de transmitir ao lactente o vírus HIV, por isso, a mulher soropositiva para o HIV não pode amamentar.
As defensinas fornecem proteção contra infecções. Dentre elas, a lactoferrina é uma glicoproteína ligada ao ferro, é a mais abundante e protege contra muitas bactérias, vírus e fungos. A lactaderina, outra defensina, evita a infecção rotaviral no recém-nascido e diminui a inflamação intestinal, mantendo sua saúde.
A lipase estimuladora do sal biliar é outra proteína do colostro. Ela digere as gorduras do leite e libera os ácidos graxos para a obtenção de energia pelo bebê. Além disso, ela protege contra infecções virais.
Os anticorpos, proteínas chamadas imunoglobulinas (Ig), também estão presentes. A predominante no colostro é a IgA, isso se deve pelo fato de que as IgG são transmitidas da mãe para o feto durante a gestação pela placenta. Essas proteínas de defesa protegem as mucosas gastrointestinais contra infecções virais e bacterianas.
O fator de crescimento epidérmico (EGF) é cerca de 2000 vezes maior neste leite inicial do que no leite maduro. Esses fatores controlam a proliferação e diferenciação celular, assim, auxiliam no amadurecimento e reparação do intestino do recém-nascido.
Outro fator que desempenha papel no aumento do crescimento tecidual e reparação é o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF). Ele atenua a atrofia intestinal, promove a sobrevivência dos enterócitos após danos intestinais e são capazes de serem absorvidos, quando, de forma sistêmica, podem estimular a eritropoiese, ou seja, a produção de hemácias.
O intestino do bebê também necessita do amadurecimento dos neurônios e das neuróglias do sistema neural entérico. No colostro estão presentes o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) e o fator neurotrófico derivado da linha celular glial (GDNF). Tais substâncias melhoram o desenvolvimento do controle do peristaltismo intestinal ao longo do processo inicial de lactação.
O fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) também possui concentração alta no colostro, o que regula a formação de vasos chamada de angiogênese. Por isso, o aleitamento materno inicial reduz problemas como a retinopatia da prematuridade (ROP), características de bebês prematuros com menos de 30 semanas de gestação.
Diante disso, é possível compreender que a amamentação logo após o parto protege o recém-nascido de diversas doenças e infecções e auxilia no amadurecimento intestinal, o que auxilia no aumento da sobrevivência infantil.
Referências:
BALLARD, Olivia; MORROW, Ardythe L. Human milk composition: nutrients and bioactive factors. Pediatric Clinics, v. 60, n. 1, p. 49-74, 2013.
HURLEY, Walter L.; THEIL, Peter K. Perspectives on immunoglobulins in colostrum and milk. Nutrients, v. 3, n. 4, p. 442-474, 2011.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009.
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