A Netosis, ou netose, é um tipo de morte celular regulada, mediada pela a ação dos neutrófilos, as principais células fagocitárias do sistema imunológico inato. Essa morte ocorre por meio de uma das estratégias antimicrobianas dessas células, a liberação de NETs, por isso, o nome NETosis.
NETs são estruturas complexas em formato de teias, compostas de cromatina descondensada e associada a mais de 30 proteínas neutrófilas, as quais podem capturar, neutralizar e levar a morte vários microrganismos. Elas são liberadas para o meio extracelular em torno do neutrófilo e, por isso, fornecem uma barreira física que impede a disseminação microbiana e aumenta a concentração local dos antimicrobianos.
Os neutrófilos junto aos eosinófilos, basófilos e mastócitos, são leucócitos classificados como granulócitos, pois, possuem vesículas chamadas grânulos em seu citoplasma, as quais contém citocinas, receptores de membrana e proteínas de defesa contra microrganismos e células hospedeiras.
Essas células, estão presentes no sangue e são recrutadas quando há infecção nos tecidos. Após a infecção, os macrófagos e outras células residentes na região liberam citocinas inflamatórias e quimioatraentes. Tais substâncias ativam e atraem os neutrófilos para a região infectada. Eles são uma das primeiras células a chegarem nos tecidos e apresentarem resposta imune e reparo tecidual.
Os neutrófilos fagocitam os microrganismos, produzindo uma vesícula que os contém, chamada fagossomo. No citoplasma, esse fagossomo funde-se aos grânulos dos neutrófilos, o que resulta na formação de um fagolisossomo. Quando ocorre essa formação, montam-se complexos enzimáticos de proteínas transmembranas, a NADPH (nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato) oxidase, as quais transferem elétrons para o oxigênio molecular na célula, formando ânions superóxidos dentro do fagolisossomo. Esse ambiente oxidativo junto a fatores microbianos, inativa e mata os microrganismos fagocitados.
Quando os grânulos azurofílicos dos neutrófilos se fundem ao fagolisossomo, há o estímulo para formação dos NETs, os quais se juntam ao conteúdo oxidado, após a degranulação da vesícula, culminando em sua liberação em conjunto para o citoplasma.
Existem vários microrganismos relatados indutores de netose, como:
As deficiências que prejudicam a formação de NET resultam em alta suscetibilidade a infecções oportunistas em humanos e modelos de camundongos. No entanto, foi observado grande produção deles em doenças autoimunes.
Existem dois mecanismos conhecidos de libertação de NET:
1) Um mecanismo rápido, que inicia de 5 a 60 minutos após a estimulação por bactérias Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes. Esse mecanismo impede uma janela de tempo em que a infecção pode se instalar, por ser mais rápido que o mecanismo chamado lento. Ele não envolve a morte celular. Assim, vesículas que contém cromatina descondensada brotam do núcleo e se acumulam próximo a membrana plasmática, quando há a degranulação do fagolisossomo, formando NETs junto a cromatina. Eles, então, são liberados para o meio externo, eliminando o patógeno sem que haja degradação completa do núcleo e a consequente morte celular do neutrófilo.
2) O outro mecanismo de liberação de NET é considerado lento em comparação ao anterior, pois dura de 2 a 4 horas após o estímulo infeccioso. A maioria dos neutrófilos realiza esse tipo de netose, culminando na morte celular. Seu mecanismo se dá da seguinte maneira: Primeiro o núcleo perde sua forma lobulada característica. Na sequência, as membranas nucleares se desintegram e a cromatina descondensa no citoplasma da célula intacta, onde se mistura com o conteúdo granular. Finalmente, a membrana plasmática se rompe e as NETs são liberadas, provocando a morte do neutrófilo.
A liberação de NETs e a netose são potentes mecanismos de defesa dos neutrófilos e complementam a capacidade do sistema imunológico de combater doenças infecciosas, além de restringir fisicamente os patógenos aprisionados e secundariamente para eliminá-los.
Referências
BRANZK, N; PAPAYANNOPOULOS, V. Molecular mechanisms regulating NETosis in infection and disease. In: Seminars in immunopathology. Springer-Verlag, 2013. p. 513-530.
GALLUZZI, L., VITALE, I., ABRAMS, J. M., ALNEMRI, E. S., BAEHRECKE, E. H., BLAGOSKLONNY, M. V. et al. Molecular definitions of cell death subroutines: recommendations of the Nomenclature Committee on Cell Death 2012. Cell death and differentiation, v. 19, n. 1, p. 107, 2012.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/citologia/netose/
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