Tarsila do Amaral foi uma das maiores artistas brasileiras. Seu trabalho no campo da pintura e do desenho teve forte influência do movimento vanguardista europeu e dos ícones culturais brasileiros, o que criou um estilo autêntico, abrangente e também regional. Nascida no interior de São Paulo, muitas de suas obras refletem criaturas representadas no campo, notavelmente nas obras A Cuca e Abaporu. O estilo cubista também teve uma forte presença em suas telas. Entre suas criações, destacam-se:
A pintura A Cuca foi feita em óleo sobre tela e remete ao ano de 1922, quando Tarsila do Amaral voltou a São Paulo após passar um tempo na Europa. Naquele ano, integrou o Grupo dos Cinco, tomando a dianteira das ideias modernistas no Brasil no contexto da Semana de Arte Moderna.
Desta forma, ao início de 1924, Tarsila do Amaral pintou A Cuca, obra a qual descreveu como “bem brasileira”. Nas palavras da pintora, tratava-se de “um bicho esquisito, no meio do mato, com um sapo, um tatu, e outro bicho inventado”.
A Cuca, apesar de ter aparecido na obra de Monteiro Lobato, “O Saci”, de 1921, era já um personagem existente na cultura popular, derivando de “Coca”, dragão derrotado por São Jorge. Em lendas portuguesas havia também Coco, fantasma de cabeça de caveira usado para assustar as crianças. Assim, Coco e Coca tinham o significado de algo maligno, então Monteiro Lobato sintetizou estas criaturas criando a Cuca com o conhecido visual de jacaré e que transforma crianças em pedras.
No quadro de Tarsila do Amaral, presente no acervo do Museu de Grenoble (França), o assustador destas lendas dissipa-se nos tons alegres e nos matizes que remetem à inocência da infância. A obra indica também a premissa da antropofagia, “só a antropofagia nos une”, presente no Manifesto Antropofágico, ou seja, A Cuca representa o ato de deglutir a técnica estrangeira no sentido de reelaborá-la de forma autenticamente brasileira.
Obra em óleo sobre tela presente na Coleção Costantini, na Argentina, Abaporu é considerada uma das pinturas clássicas do movimento modernista no Brasil. De acordo com críticos de arte, os elementos mais marcantes da obra estão nas mãos e nos pés enormes da criatura metamórfica, o que seria uma maneira de valorizar o trabalho braçal. Ao mesmo tempo, a cabeça apequenada representaria a colocação do trabalho intelectual em segundo plano.
Com origem no idioma tupi-guarani, dos índios brasileiros, Abaporu tem o significado de “homem que come gente”, o que faz um paralelo novamente com o ideal modernista da antropofagia cultural. O nome que batiza esta obra, quando dividido em partes, indica “aba” como homem, “pora” significando gente e “ú” é “comer”.
Operários é uma obra marcante de Tarsila do Amaral feita em óleo sobre tela. Está presente no Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo, em Campos do Jordão. A tela remete ao período em que a pintora esteve na União Soviética. Então, em 1933, quanto voltou ao Brasil, estava sob forte influência do regime organizado pelo proletariado soviético e expôs, no Rio de Janeiro, o quadro Operários.
Visivelmente, a pintura Operários apresenta a miscigenação brasileira sob o ponto de vista das diversas faces de contornos étnicos diferentes. Elas estão juntas, praticamente coladas, representando a atuação dos trabalhadores brasileiros nas fábricas que àquele período surgiam no Brasil, com ênfase em São Paulo, nos anos 1930 de Getúlio Vargas. A obra simboliza também a imigração e a emigração. Outra obra de Tarsila do Amaral que teve origem em sua viagem à URSS foi a tela Cemitério URSS (1931), que com contornos simples representa um cemitério e foi feita em carvão sobre papel.
Obra feita em óleo sobre tela, Figura em Azul remete a um dos anos mais importantes na carreira de Tarsila do Amaral. Em 1923, a artista encontrava-se na França, onde conheceu Blaise Cendrars e foi apresentada aos intelectuais modernistas franceses. Assim, a pintora produziu algumas de suas obras mais expressivas, e Figura em Azul data deste momento. Marca ainda o início de um sentido de brasilidade a que a artista encontrara na França. Um dos elementos interessantes desta obra é o delineamento orgânico da laranjeira, uma referência ao pintor Henri Matisse.
Fontes:
GOTLIB, Nádia Batella. Tarsila do Amaral: a modernista. São Paulo: Edições SESC, 2018, 240p.
https://tarsiladoamaral.com.br/cuca-de-tarsila-do-amaral-na-exposicao-jardin-infini-no-centre-pompidou-metz/
https://www.culturagenial.com/quadro-operarios-de-tarsila-do-amaral/
https://www.galerialiviadoblas.com.br/blog/as-tematicas-as-tecnicas-e-as-obras-de-tarsila-do-amaral/
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/artes/obras-de-tarsila-do-amaral/
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