O antigetulismo paulista é uma estratégia política das oligarquias de São Paulo. Seu objetivo é a diminuição das realizações ocorridas na Era Vargas. Este processo pode ser observado em diversas ações entre as décadas de 1930 e 1950.
Com a chegada de Getúlio Vargas ao poder no início dos anos 1930, ocorreu uma gradual inserção das camadas médias no âmbito político brasileiro. Isso ocorreu conforme a instituição das Leis Trabalhistas, da introdução da industrialização, do voto feminino, entre outras medidas.
Com isso, grande parcela da população demonstrou apoio ao governo. Este panorama foi refletido principalmente em São Paulo, que à época representava o maior parque produtivo em escala nacional. Isso beneficiou de forma enfática os operários que, concentrados na capital paulista, obtiveram mais segurança para trabalhar.
No início dos primeiros anos do mandato de Getúlio Vargas, a economia brasileira estava praticamente devastada. Isso se deve a muitos fatores como o Crash da Bolsa em 1929 e a dependência brasileira focada somente na exportação do café. Os preços da atividade cafeeira no período estavam decaindo demais por causa da crise da economia mundial aliada à superprodução.
No intuito de reverter esta situação, Vargas atuou no sentido de aumentar o preço do café. Para isso, organizou junto a diversos setores a queima dos estoques no Porto de Santos. Foram queimadas toneladas e mais toneladas do produto. Com base em um conjunto de medidas intervencionistas, Vargas tinha o intuito de colocar o país na rota do crescimento novamente.
Essa política foi observada pelo presidente americano Franklin Roosevelt, que estava no Rio de Janeiro naquele momento e indicou que as medidas convergiam com o New Deal aplicado nos EUA, conjunto de metas para a recuperação da economia norte-americana vitimada pela Crise de 1929.
Ao ver seus poderes econômicos diminuírem, as oligarquias de São Paulo organizaram a FUP - Frente Única Paulista. Liderada por Júlio de Mesquita Filho, esta conflagração das elites paulistanas colocou-se contrária à atuação do Governo Provisório, que foi o início do governo Getúlio Vargas no Brasil. A Frente reivindicava a restauração da configuração federativa anterior, que legitimava a autonomia e influência de São Paulo em relação ao resto do país por meio da exportação de café.
Assim, essa coligação influenciou as massas trabalhadoras de São Paulo com base no orgulho paulista. Entre os veículos que apoiaram essa empreitada destaca-se O Estado de São Paulo - também pertencente à família de Júlio de Mesquita Filho - que estampou em 1932 o título de capa: “São Paulo para os paulistas!”.
Embora fossem auxiliados pelos veículos midiáticos mais influentes e tivessem conseguido formar tropas, os liberais paulistas não obtiveram apoio externo. Isso ocorreu devido à campanha intermitente de Vargas em outros estados e o interesse de impedir o restabelecimento da influência de São Paulo na economia e política nacionais. Assim, em um período aproximado de três meses, a contra-revolução paulista foi derrotada.
A partir deste momento cresce entre as oligarquias paulistas o sentimento antigetulista. Em 1934, a contra-ofensiva veio por meio do investimento aplicado na criação da USP - Universidade de São Paulo. Através da primeira universidade do Brasil, os vencidos na guerra de 1932 formaram um núcleo ideológico e culturalmente hegemônico. A partir desta concepção, em conluio com diversos intelectuais, a revolução de 1932 - da qual o número de mortos varia entre 600 a 2000 - foi atualizada como Revolução Constitucionalista.
Mas o antigetulismo paulista parece ser mais uma questão das oligarquias do que do povo. Em 1950, os cidadãos de São Paulo deram 64% do índice de votação para Vargas. Nem mesmo em sua terra natal, o Rio Grande do Sul, o presidente chegou a ter aceitação tão significativa.
O antigetulismo continuou presente entre as principais capitais do sudestes do Brasil no segundo governo de Getúlio Vargas. Alicerçada agora no Rio de Janeiro, mas contando com apoio de outros estados vizinhos, a investida deu-se no caso Última Hora, uma espécie de cerco da imprensa em relação ao governo.
Neste episódio, ocorreu uma união entre as publicações O Globo, O Jornal e a Tribuna da Imprensa. O conluio acusava Getúlio Vargas de interceder para liberar por meio do Banco do Brasil um empréstimo para fundar o jornal Última Hora, liderado pelo jornalista Samuel Wainer. O periódico em questão, ao contrário dos outros veículos hegemônicos, mantinha oposição em relação à classe dirigente e apoiava o governo.
Alguns historiadores indicam que esta campanha contra o Última Hora deu-se para diminuir a campanha que o governo getulista fazia a favor da Petrobrás - O petróleo é nosso! - frase criada por Otacílio Raínho. O intuito era promover o desenvolvimentismo brasileiro a partir da estatal petrolífera. Assim, o caso Última Hora diminuiu o discurso em torno da questão nacional substituindo-o pelo da corrupção.
Bibliografia:
MACHADO, Juremir. Getúlio. Rio de Janeiro: Record, 2004.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/antigetulismo-paulista/
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