“Hoje é o primeiro dia de Carnaval, mas Wickham, Sullivan e eu não nos intimidamos e estávamos determinados a encarar seus perigos. Estes perigos consistem principalmente em sermos, impiedosamente, fuzilados com bolas de cera cheias de água e molhados com esguichos de lata. Achamos muito difícil manter a nossa dignidade, enquanto caminhávamos pelas ruas”.
O relato acima é de Charles Darwin em sua visita ao Brasil no ano de 1832. Ele ficou na cidade de Salvador e acompanhou a farra que acontecia pelas ruas da capital baiana. Era desta forma que ocorria o mais festejado evento brasileiro no século XIX. Apesar do relato de Darwin, alguns historiadores brasileiros apontam, como marco inicial da festa no Brasil, uma comemoração feita pelo povo carioca ao receber a Família Real portuguesa no Rio de Janeiro. Outros estudiosos alegam que o Carnaval surgiu nos anos 20, quando apareceram os primeiros cordões de foliões na capital carioca.
Com o Golpe de Estado de Getúlio Vargas e início de seu governo, o Carnaval do Brasil começa a ganhar nova configuração. Seguindo a proposta fascista que Mussolini empregava na Itália, o então presidente decidiu criar algumas “regras carnavalescas”. Instituiu-se que todos os sambas-enredos teriam letras em homenagem à história do Brasil. Além disso, os instrumentos de sopro foram proibidos por terem origem européia.
Lamartine Babo, compositor carioca de marchinhas irreverentes e satíricas, foi censurado pelo Estado Novo juntamente com outros compositores. É possível perceber o tom de deboche de Lamartine na letra da marchinha “Parei Contigo”, onde ele dizia:
“Tu és o tipo
do sujeito indefinido, carcomido
que só quer tirar partido
Meu Deus, mas é isto
que se chama ser amigo?
Parei contigo! Parei contigo!
Nas eleições foi o diabo
pois tu eras o meu cabo
e votaste no inimigo (...)
Já vou-me embora, cruz!
Vou disparando
Se não tu furtas a canção
que eu estou cantando”.
Apesar da censura das marchinhas, Getúlio utilizava-as para seu benefício também. João de Barro e José Maria de Abreu criaram, em 1950, uma marchinha com a letra:
“Ai, Gegê!
Ai, Gegê, que saudades
Que nós temos de você”.
Outro músico apoiado pelo ditador foi o carioca Heitor Villa Lobos. Segundo o compositor e ensaísta José Miguel Wisnik, “respaldado por Vargas, a contra ofensiva orfeônica de Villa Lobos busca conquistar ativamente para a “grande Arte” o seu prestigioso papel de portadora do sentido da totalidade, perdido no vórtice galopante da “crise” moderna”.
Mas nenhuma marchinha ou letra pró Getúlio simbolizam tanto a influência político-ideológica nas composições da época como o samba-enredo da escola de samba Deixa Falar, conhecida como a primeira do Brasil. Além de desfilarem, no ano de 1929, utilizando cavalos da Polícia Militar do Rio de Janeiro em sua comissão de frente, seu título de samba-enredo era nada menos que “A Primavera e a Revolução de Outubro”, uma homenagem à tomada do poder getulista em 1930.
Fontes: http://educacao.uol.com.br/atualidades/ult1685u282.jhtm http://letras.terra.com.br/lamartine-babo/374954/ http://apatrulhadalama.blogspot.com/2010/01/aniversariantes.html http://augustobier.blogspot.com/2010_02_01_archive.html http://cemingba.blogspot.com/2009/02/bicentenario-de-charles-darwin-ganha.html
NARLOCH, Leandro. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. São Paulo: Editora Leya, 2009.
CARMANEIRO, Fabio Diaz. Contradições da Canção Música popular brasileira em “O Mandarim”, de Julio Bressane
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