Medicina Popular consiste em uma ciência informal. Sua origem se deu em paralelo à necessidade de adaptação dos seres humanos à natureza. Em outro aspecto, ocorreu por meio das trocas culturais entre povos de diferentes regiões, utilização empírica de elementos da natureza por meio da vaporização, destilação, entre outros meios.
Esta ligação dos humanos com o seu habitat natural era de certa forma benéfica, pois da natureza era retirado o alimento e a água. De outro modo, podia ser maléfica e assustadora, visto os perigos que os animais carnívoros, os fenômenos naturais como raios e tempestades, além de vegetais venenosos; poderiam trazer.
Desta dicotomia parece ter surgido a crença de um mundo regido por espíritos bons e outros maus. Então, tudo que era tirado da natureza e causava dor, acabava sendo excluído, associado ao mau. Assim como eram preservados os elementos bons, ou seja, que tiravam a dor e aumentavam a potência dos seres, sinônimos de benesses. O mau, neste sentido, passara a ser a anulação do ser, e o bem era tudo que causava fortalecimento. Conclui-se a partir daí que as crenças e a medicina sempre tiveram uma ligação.
À medida que a medicina popular se expandia pelo mundo, acabaram surgindo os especialistas desta prática. As pessoas, então, passaram a recorrer aos cuidados de feiticeiros, místicos, religiosos, sábios, entre outros personagens que podiam livrá-las das enfermidades. Em outro plano, objetos também eram utilizados como forma de proteção; como desenhos corporais, talismãs, amuletos e elementos naturais que possuíam o poder de curar ou evitar que algo ruim acontecesse.
Muitos antes da chegada dos portugueses no território em que se formou o Brasil, a medicina popular de cunho místico já era praticada. Na cultura dos nativos, deuses como Tupã e criaturas folclóricas como Boitatá, Urutau e o Curupira tinha sua associação com a proteção tanto da floresta como dos seres que se associavam de forma positiva ao meio natural.
Os agentes que praticavam a medicina natural eram os pajés, que através da propedêutica examinavam o enfermo e, após consulta por meio do oráculo de Tupã, podiam indicar quais eram as ervas medicinais e terapia a serem seguidas. O bispo do Pará, D. Caetano Brando, em carta para Lisboa, indicava: ''melhor tratar-se a gente com um tapuia que observa com mais desembaraçado instinto do que com médico de Lisboa".
Havia uma diferença entre a medicina dos africanos trazidos ao Brasil e as práticas dos nativos. Entre os povos oriundos da África, através do passe ou de danças, era possível que qualquer um pudesse ajudar o enfermo em uma cura, sem que fosse preciso um especialista, como o pajé.
Os escravizados que vieram das tribos de malês, localizadas às margens do rio Níger, seguiam o islamismo e tinha conhecimento sobre infusão de ervas, poções para a cura da impotência, entre outras. Um fato interessante é que a palavra “mandingueiro” tem a sua origem nos malês, que foram alcunhados como “mandingues” pelos senhores de engenho, ávidos pela busca de remédios por eles indicados. Com o passar do tempo, mandingueiro tornou-se sinônimo de pessoa conhecedora de magia ou que vive por meio de trambiques.
Nascente de preceitos a respeito da medicina popular no Brasil, o Chernoviz era um manual de práticas deste gênero. Este compêndio foi organizado por Pedro Luís Napoleão Chernoviz, médico polonês que viveu no Brasil e consolidou fama nos primeiros anos do século XIX, no Brasil Império. O epítome Chernoviz resultou de intensa pesquisa do estudioso a respeito da flora brasileira, assim como catalogava também descobertas de outros naturalistas que atuaram no país.
As doutrinas do Chernoviz, usadas naquele período por qualquer cidadão que soubesse ler, eram passadas de forma oral por meio do povo, notadamente os sertanejos. O resumo reunia abordagens a respeito de elementos como: formulários, formas de medicamentos, classificação de ervas, elementos naturais, águas de caráter medicinal, entre outros.
Fontes:
BYNUM, William. História da medicina. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.
https://www.bjan-sba.org/article/5f9c9dcf8e6f1a40018b46d6/pdf/rba-31-3-257.pdf
https://www.britannica.com/science/folk-medicine
https://www.ktb.gov.tr/EN-98550/folk-medicine.html
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