O reacionarismo configura-se a partir da crença no retrocesso. Apresenta-se com a idealização de momentos históricos. O reacionário defende sempre que se retorne a uma época passada. Para o adepto do reacionarismo, sempre há um tempo anterior que se apresentava como solução para os problemas da sociedade. Em suma, pode-se afirmar que esta visão política entra no rol das ideologias utópicas, visto que não existe possibilidade de fazer um recorte do passado e trazê-lo para o presente.
Confundir o reacionarismo com o conservadorismo é bastante comum. Entretanto, não existem paridades entre os dois termos. O conservador não idealiza o passado, mas reivindica que o status quo seja mantido. Assim, crê no progresso dentro de um estado atual das coisas, objetivando sempre, dentro do que é possível, a melhoria material a ser conquistada em uma sociedade. O conservador faz a defesa da preservação do sistema econômico, por exemplo, ao contrário do revolucionário, que luta por uma cisão da normalidade por visualizar um desenvolvimento futuro.
O reacionário coloca-se como o indivíduo que diverge tanto do conservador quanto do revolucionário. O reacionarismo é saudosista em sua essência. Para os seus seguidores, o presente é sempre um lugar ruim. Geralmente, os reacionários são as pessoas de mais idade, que realmente viveram um momento considerado por eles como ideal.
Esta realidade apresentou uma mudança no início dos anos 2010. Ocorreu a formação de uma nova onda reacionária em países ocidentais. No Ocidente, jovens convergiram em torno de ideias reacionárias por meio da sua propagação através das mídias sociais.
Esse movimento pode ser exemplificado pela eleição do presidente Donald Trump, em 2018, político que tinha o slogan de campanha: “Torne a América Grande Novamente” (Make America Great Again). Assim, percebe-se que os jovens reacionários norte-americanos acreditaram que o Estados Unidos tinha em sua História passado por um período ideal. Entretanto, a maioria dos jovens que elegeram o líder republicano não tinham vivido a época em questão.
No Brasil este processo ocorreu também no começo dos anos 2010. No início daquela década ocorreu uma onda de publicações revisionistas da História, que relativizou o genocídio indígena, as atrocidades da escravidão e as lutas de independência das nações latino-americanas. Aliado a isso, não ocorreu naquele período uma mudança referente à educação de base ou ao aprimoramento do conteúdo dos veículos de comunicação. Estes fatos uniram-se na formação de uma geração de jovens com ideais reacionários sem capacidade crítica.
Com o surgimento das mídias sociais, comunidades baseadas em ideais retrógrados se formaram e foram politicamente utilizadas para manipular a opinião pública. Em 2018 foi eleito o presidente Jair Bolsonaro. O tema de sua campanha era “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, frase sintomaticamente parecida com a do verso “Deutschland über alles” (A Alemanha acima de tudo), presente na canção “Das Lied der Deutschen” (A canção dos alemães), posteriormente incorporada pelo nazismo. Entre outros aspectos, Jair Bolsonaro tinha como uma de suas metas de campanha acabar com o comunismo no Brasil, combater a ditadura gay e o "coitadismo" dos negros.
Ao mesmo tempo, o Ocidente lidava novamente com questões até então consideradas sob controle, como a imigração. A onda da vanguarda do reacionarismo também ocorreu na Inglaterra. A eleição de Boris Johnson como Primeiro Ministro comprova esta movimentação.
O político é acusado de se referir aos imigrantes como culpados por problemas locais no país britânico. Ele afirmou que os estrangeiros não deveriam “tratar o Reino Unido como seu”, além de perseguir o que chamava de imigrantes sem qualificação profissional. Johnson foi um dos maiores apoiadores da retirada da Inglaterra da União Européia, episódio que ficou conhecido como Brexit.
Segundo alguns sociólogos, esta nova atividade do reacionarismo no Ocidente ocorreu devido a sua própria política de democracia liberal. Outro fator foi o neoliberalismo econômico. Com a economia em queda, ausência de políticas públicas e intervenções estatais em setores essenciais para o bom funcionamento da sociedade, a população viu em líderes reacionários, com discursos armamentistas e enfatizando a segurança pública, uma alternativa para uma possível mudança em todos os sentidos.
Fontes:
Bitencourt, Sandra. “REACIONARISMO EM REDE.” Enciclopédia Do Golpe, Vol. 2: O Papel Da Mídia, edited by Mírian Gonçalves, by Giovanni Alves et al., CLACSO, 2018, pp. 189–195. JSTOR, https://www.jstor.org/stable/j.ctvn96fw2.24. Acesso em 23 de Julho 2020.
https://www.blogdacompanhia.com.br/conteudos/visualizar/Bolsonaro-X-Montesquieu
https://medium.com/@marcelolourenco/o-fen%C3%B4meno-donald-trump-bf30d3cf505a
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-diferenca-entre-conservadores-e-reacionarios-o-centro-e-a-direita-no-Brasil/4/35897
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/politica/reacionarismo/
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